domingo, fevereiro 25, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - 23

Cá estamos de volta, sem nunca termos deixado de estar. Estas viagens são assim. Vão-se fazendo mesmo quando parece que não estão a ser feitas. E voltamos à página 158, porque dela há muito a (transcre)ver e dela transbordamos para a 159, que não menos tem para ser transcrito. É que estamos no cruzamento dos caminhos de Cervantes com D. Quixote, onde nos trouxe Mestre Aquilino :

Teve alguma vez Cervantes o sentimento de que estava a tirar da alma os imensos pesadelos que a ensombravam e, dobando-os como lã de dobadoira, os traduzia para uma linguagem susceptível de duas percepções? De facto, ele escrevia o seu auto-retrato e, num plano superior, a história de Espanha que, segundo um professor universitário, vista na versão oficial ou acreditada, é uma gigantomaquia sinistra do princípio ao cabo. Se assim é, para conseguir ser exacto, consciente ou subconscientemente, pouco interessa, teve de abstrair das noções estabelecidas, mexer com a ordem das coisas, pôr, digamos, o chamado senso comum de pernas para o ar. O que daí resultou - verdade das verdades - foi uma odisseia de irrisão e de amargura.

Estamos mesmo no cruzamento em que Cervantes cede o passo a D. Quixote. É um momento crucial do livro de Aquilino Ribeiro. Nele nos devemos deter, saboreando a prosa e confrontando as duas vidas, ou uma vida que a outrém (o engenhoso fidalgo dom Quixote de la Mancha) vida deu ao escrever um livro com o nome deste por título, debaixo do nome seu (Miguel de Cervantes Saavedra) como autor (ou acima, conforme as edições).

Voltamos já!

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