segunda-feira, fevereiro 05, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - 15

Saltei para a garupa do animal, afaguei-lhe a crina de aparas de madeira, e procurei dar-lhe alento: Eia, vamos lá para a página 107. Então não é que o gajo me voltou um olhar recriminador e me apostrefou entre a enorme dentuça: Disseste, no dia 26de Janeiro, que era ainda hoje ou amanhã... e já passou bem mais que uma semana...? Claro que não me ia desculpar perante tal alimária, e retorqui: 'Tá bem, 'tá bem... dei-te folga e ainda refilas. E olha que depois temos uma longa caminhada até à página 124 e 125. Prepara-te.
Nem me respondeu, só zurrou...
Vamos lá, então, à página 107:
A Espanha preferiu conservar-se abraçada ao espectro da Monarquia Universal e relegou o problema do país insurgido a segunda leitura. Foi o que salvou a frágil nacionalidade, que ao tempo carecia de fibra e espinha própria para resistir ao empalme. Senhorear-se efectivamente de Portugal era questão, mais que de força, de tacto político. Observaram a Filipe, quando chegou a Lisboa, se não foi ele que o concebeu ou o duque de Alba, que era homem astucioso e com largas vistas: - Deixai a Portugal suas leis e usanças; cativai seus fidalgos e sacerdotes com benesses e honrarias; não toqueis em nada que lhes seja sagrado. Esta é a boa táctica e o melhor processo de governar este povo brando e bastante acarneirado. Agora, senhor, se quereis fazer de Portugal uma província espanhola, como o é a Galiza, por exemplo, de modo que jamais se quebrem os vínculos, e que nem ele dê conta, cultivai-lhe o orgulho e a vaidade, mudai a capital de vossos reinos para Lisboa. O português facilmente se ilude; julga que foi ele que ganhou a partida, que é ele que dá leis e, dentro de duas ou três décadas, não há mais nação lusitana nem coisa que se pareça.

Nenhum comentário: