domingo, setembro 30, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - 57

E tínhamo-nos despedido, na "paragem" 56, dizendo até já!... Tanto tempo passou, até com a ida de Mestre Aquilino para o Panteão, aqui referida de passagem.
O tempo estã difícil, as solicitações são muitas, Mas queremos levar a jornada até ao fim. Não com sacrifício, com a alegria de cumprir um objectivo e o prazer de ler e reler e dar a ler um livro que bem o merece. e tão esquecido...

Pois vamos até à página 325, onde vamos encontrar o bom (será?) do Sancho:

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Sancho não será pois bom, nem mau, apenas o homem no seu posto. O que são os camponeses, obrigados à força de ardis a defender-se do rico que os explora, do poderoso que lhes bate, do Estado que os carda, ora carneiros, lobos, milhafres sabe-o quem lida com eles. Tudo afinal é a vida, a condicionação do homem, género Sancho, dentro do restante mundo, mas não a bondade intrínseca que Unamuno supôs no escudeiro manchego. Bondade, entanto que postiço, é a de S. Martinho, que repartia a capa com o pedinte; a de Lutero, que, para não quebrar o sono do bichano adormecido, uma vez cortou à tesoura a parte da garnacha em que ele se aninhava; a de S. João de Deus, que pegava nos enfermos às costas e os conduzia ao hospital; a do pobre dos caminhos que reparte o pão com outro mais faminto; em suma, é uma virtude de santos e porventura de tolos. O nosso semelhante, ingrato, pretencioso e troca-tintas, merece tais sacrifícios?

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Estamos nas páginas finais. Esta imagem do camponês, escusado seria dizê-lo, é a de um tempo em que a agricultura, por aqui, era uma actividade produtiva, e em que não havia televisão e outras formas de aproximar os mundos sem que os mundos tenham deixado de ser vários e díspares.

E esperamos não demorar muito tempo a aqui regressar. Mas alguém, além deste encantado escriba/ copista daria pela falta? Daria ele por não cumprir um propósito e já muito seria.

quarta-feira, setembro 19, 2007

Aquilino

Hoje, não podia deixar de referir a homenagem nacional a Mestre Aquilino, que nos tem acompanhado, há longos meses, neste blog.
Mais diremos quando possível mas, hoje, apenas fica esta palavra. E a não-surpresa por não ter ouvido uma vez - não ouvi tudo... - citada a versão do D. Quixote e o "nosso" No cavalo de pau com Sancho Pança

quinta-feira, setembro 13, 2007

GMR e SdaT no Jornal de Letras (Listopad)







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Na página que publica semanalmente em Jornal de Letras, na edição desta semana Jorge Listopad refere-se a Onde estava Vossa Mercê nos painéis?, de Gonçalo Morais Ribeiro.

O livro será apresentado no domingo, 16, nos Castelos de Ourém, pelas 17 horas.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Informação/convite




No dia 16 de Setembro, domingo, às 17 horas
a

vai promover, num torreão dos Castelos de Ourém

(disponibilizado pela Câmara Municipal),
um debate-apresentação de:



(uma maneira original, fundamentada numa longa investigação,
de levantar uma questão que atravessa a nossa História)





com o autor,
Gonçalo Morais Ribeiro


e “Vossa Mercê”….
onde vai estar no dia 16?

segunda-feira, setembro 03, 2007

Onde estava Vossa Mercê nos painéis?


No termo e nos termos deste seu labor, usando e abusando das disjuntivas, vem o editor e actor de outros estatutos, deixar duas palavras (que sempre mais que duas são…) em honra e louvor de quem congeminou e foi autor desta obra.
Totus in illis, Gonçalo Morais Ribeiro, que parece ter querido fugir a deixar a sua identificação para além de três iniciais arrevesadamente responsabilizadoras, fez das “tábuas” jangada sua, e por elas e nelas viajou, descobrindo caminhos novos, julgando outros ter descoberto, alguns inventando com imaginação e mão fina e afinada.
A outréns, doutores e professores, caberá, ou melhor: caberia, avaliar o mérito (e talvez o atrevimento) desta viagem em que G.M.R. se investiu e revestiu de por vezes curiosas roupagens, e por via da qual se entranhou adentro estranhas gentes, cousas e feitos.
A nós, das edições e de outras (boas) acções e (malas) artes, coube transformar o metódico e caótico (sim, as duas coisas!) original neste volume.
Em nome de



No cavalo de pau com Sancho Pança - 56

Nisto de observar o mundo... palavra a Mestre Aquilino (pág. 324):
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Nisto de observar o mundo há dois métodos de prospecção. Um que consiste em encarar as coisas no primeiro plano do horizonte. É o processo comum e cómodo, mais condicente com o uso dos sentidos. No primeiro plano, a mulher que amamos é bonita, desejável, cheia de dons. No segundo plano, desdenha-se dela porque há-de envelhecer, tornar-se feia, se não hedionda, matéria pútrida, enfim caveira.
No primeiro plano ama-se a vida, o bem, a glória. No segundo, detesta-se a vida, porque nada há mais transitório, menosprezável, e porque tudo que tem princípio tem fim. Segundo a origem teológica da Terra, tudo começou num nihil mediante uma vontade e acaba em nihil. Também segundo a teoria geológica do nosso Globo, uma série de catástrofes modelaram a sua configuração actual em continentes, mares e ilhas; qualquer catástrofe imprevisível pode produzir nova transmutação, e de uma hora para a outra subverter, com as nossas cidades, o nosso orgulho, a nossa ciência e o nosso património de civilizados. No segundo plano, pois que tudo é efémero, bem e mal, beleza e disformidade equivalem-se na meta de todas as coisas, e tanto vale , enfim, a Vénus de Milo como a estátua de bronze comercial que se vende no bazar. Unamuno via os figurantes do D. Quixote através as lentes fumadas de velho homem, desiluso do plano amável das coisas, de modo geral, às avessas do restante mundo. Dir-se-á: tudo é relativo. Precisamente, a relatividade é ainda, como certeza dialéctica, uma consolação de primeiro plano.
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E pronto. Até já.

domingo, setembro 02, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - 55

Às vezes, há surpresas. Boas. Uma amiga, das que não fazem comentários..., trouxe-me uma prenda. Para mais pela mão do neto. Uma edição, lá dos anos 50, de D. Quichote - rei de Portugal. de Thomaz Ribeiro Colaço. Já o folheei, e estou preso. O 4º prefácio do autor (!) - D. Sebastião e Camões - é uma carta a Aquilino Ribeiro. O que para lá está, em termos civilizados, muito correctos, de cavalheiros! E Cervantes, e D. Sebastião, e Camões, e D. Quixote, e Sancho. Que material! Mas vou continuar a viagem... Agora, sobre o camponês (pág. 323)
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O camponês, em si, não é bom nem mau. Mas porque está perto da natureza em tudo o que ela conserva de estático no que concerne às leis genéticas, possui as manhas do homem, ao fundo da escala racional, resultantes do contacto estreito com as necessidades elementares e os seres que lhe parecem úteis. É intuitivo que o entendimento se lhe tenha desenvolvido em conformidade. Cervantes pinta-nos Sancho despojando o frade que D. Quixote deita abaixo da mula com um bote de lança; regateando com o amo a soldada; logrando-o no cômputo e natureza dos açoites que deveria dar na bunda e subestabelece nas árvores para desencanto de Dulcineia, a tanto por peça; sonegando o pecúlio achado na Serra Morena; extorquindo três poldrinhos a Quixote; aferrolhando bem aferrolhada a gratificação com que o duque procura coonestar as pachouchadas que os dois, como uns pelotiqueiros, vieram representar a palácio para seu desenfado. Numa palavra, temos nele o perfeito velhaco (...)
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Assim, temos Aquilino sociólogo, ou antropõlogo, a fazer alarde de uma dessas cieências sociais. Depois de historiador e, sempre, ensaista e excepcional manejador da língua portuguesa.