domingo, setembro 02, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - 55

Às vezes, há surpresas. Boas. Uma amiga, das que não fazem comentários..., trouxe-me uma prenda. Para mais pela mão do neto. Uma edição, lá dos anos 50, de D. Quichote - rei de Portugal. de Thomaz Ribeiro Colaço. Já o folheei, e estou preso. O 4º prefácio do autor (!) - D. Sebastião e Camões - é uma carta a Aquilino Ribeiro. O que para lá está, em termos civilizados, muito correctos, de cavalheiros! E Cervantes, e D. Sebastião, e Camões, e D. Quixote, e Sancho. Que material! Mas vou continuar a viagem... Agora, sobre o camponês (pág. 323)
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O camponês, em si, não é bom nem mau. Mas porque está perto da natureza em tudo o que ela conserva de estático no que concerne às leis genéticas, possui as manhas do homem, ao fundo da escala racional, resultantes do contacto estreito com as necessidades elementares e os seres que lhe parecem úteis. É intuitivo que o entendimento se lhe tenha desenvolvido em conformidade. Cervantes pinta-nos Sancho despojando o frade que D. Quixote deita abaixo da mula com um bote de lança; regateando com o amo a soldada; logrando-o no cômputo e natureza dos açoites que deveria dar na bunda e subestabelece nas árvores para desencanto de Dulcineia, a tanto por peça; sonegando o pecúlio achado na Serra Morena; extorquindo três poldrinhos a Quixote; aferrolhando bem aferrolhada a gratificação com que o duque procura coonestar as pachouchadas que os dois, como uns pelotiqueiros, vieram representar a palácio para seu desenfado. Numa palavra, temos nele o perfeito velhaco (...)
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Assim, temos Aquilino sociólogo, ou antropõlogo, a fazer alarde de uma dessas cieências sociais. Depois de historiador e, sempre, ensaista e excepcional manejador da língua portuguesa.

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