sexta-feira, julho 30, 2010

"Ensaio" sobre tradução

A uma tal Maria Castro Dias

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Sim. Vou atrever-me a escrever um "ensaio" (entre aspas) sobre tradução. Em meia dúzia de linhas, à medida de um blog. Por isso, não será um ensaio (sem aspas).

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Sempre que leio um livro traduzido, perco algum tempo a pensar - e a avaliar - a tradução. Uma obra que alguém escreveu na sua língua, ou na língua que fez sua ao escrever o livro, é por mim lida numa outra língua, que é a minha, de leitor, pelo que há uma entreposta pessoa entre o autor que escreveu o que leio e eu que leio o que escrito foi.

Aliás, já algumas traduções fiz - de livros de economia -, já nalgumas traduções participei. E começo por uma destas. Ou já comecei, quando escolhi um nome (e não foi o nome), alguém, tradudora, para lhe dedicar este "ensaio".

Foi o caso de ter vivido intensamente a tradução de A História do senhor Sommer, de Patrick Süskind. Talvez sem na altura me aperceber tão bem como hoje sei que o foi. Aquela casa em que vivíamos foi, durante uns tempos, partilhada pelo autor, um alemão nascido na Baviera, mais da idade da tradutora que da minha, que se meteu na nossa vida-a-dois (e mais um).

Foi uma aprendizagem sobre designações de peças de bicicleta, sobre coisas ligadas a piano, foi um tempo de buscas para encontrar, em português, a correspondência mais ajustada para o que o tal Patrick escrevera em alemão. Foi muito giro. E, sem querer uma folhinha de louro que seja para a obra tão asseada que saiu, dela me orgulho.

E por ela me zango. Por ver, na busca de agora - para elaborar este "ensaio"... -, a tal Maria Castro Dias assim nomeada, e não como gostaria que estivesse, e por a ver poucotratada, e vá lá que não maltratada porque referida. Embora sem encontrar referências à 1ª edição, e só os ver a partir da 2ª edição, de 1993 (e vão 12), o que me impede de dizer com precisão em que anos andámos (é maneira de dizer...) às voltas com a tradução.

Poucotratada para não dizer maltratada... O que não é o caso de um outro tradutor de um livro que me marcou, pelo excelente texto que li em português, de um autor turco, traduzido do francês. Trata-se de Os românticos - a vida é bela, meu velho de Nazim Hikmet, traduzido por um tal José Saramago, 1ª edição de 1985, quando o tradutor "precisava" de fazer traduções (e ainda bem que fez esta, e outras), sendo o caso da promoção da obra, pela editora, não referir quem a traduziu.

Adiante...

Pois sobre isto de traduções haveria muito a escrever. E, feito o intróito, avançaria por dizer que há autores que só leio na língua original. Como os portugueses e brasileiros e um certo Daniel Pennac que não sei como leria em tradução para português. É que não vejo como (Chagrin d'école, por exemplo). Tal como, ao contrário, não vejo de que maneira certos autores de língua portuguesa poderiam - poderão!, porque são - ser traduzidos noutras línguas. Como Aquilino, como Mia Couto, como Luandino Vieira.

Já o caso que me trouxe a este "ensaio" é o de uma tradução que, na minha leitura, ultrapassa a grande qualidade de passar desapercebida, para me despertar, ou sobressaltar, para a sua qualidade intrínseca.

A tradutora de O complexo de Portnoy, Ana Luísa Faria, fez-me, mais de uma vez, parar na leitura. A apreciar as soluções de tradução, como na manutenção de palavras e expressões judaicas talqual (talvez a "solução" para traduzir Luandino), que o leitor se deve encarregar de traduzir, como o faria na leitura do original, ou a pensar "que bem adaptado à língua e cultura que é a de mim-leitor português".

Por exemplo (páginas 227-8):
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«Porque é que eu não casei com a rapariga? Bom, para começar havia aquele seu calão queriducho de colégio interno. Insuportável. “Deitar fora” por vomitar, “piurço” por irritado, “de gritos” por divertido, “chanfrado” por louco. Ah, e “divinal” (…). E depois havia as alcunhas dos amigos; e havia os amigos propriamente ditos! Quincas, Pipas e Cucas, Nicos, Bolotas, Xixas, Pituns, Bonecos, Babás – quem a ouvisse pensaria, disse-lhe eu, que ela tinha andado em Vassar(*) com os sobrinhos do Pato Donald… Mas a verdade é que o meu calão também a fez sofrer. Da primeira vez que disse foda-se diante dela (…) estampou-se no rosto da Peregrina uma tal expressão de sofrimento, que seria caso para pensar que eu lhe gravara na carne as seis letras a ferro em brasa. Mas porquê, perguntou-me ela em tom de queixa, assim que ficámos sós, porque é que eu tinha sido tão “detestável”? Que prazer me dava ser tão “malcriado”? O que é que eu queria “provar”? “Foste chatérrimo, e sem necessidade nenhuma. Que coisa mais gratuita.” Chatérrimo, na linguagem das debutantes, é sinónimo de desagradável.»
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(*) Vassar College é uma das mais antigas e tradicionais instituições privadas, mista de ensino e de artes, nos Estados Unidos. Situa-se em Poughkeepsie, cem quilómetros ao norte de Nova Iorque. Fundado em 1861, foi a primeira universidade exclusivamente para mulheres nos Estados Unidos.

quinta-feira, julho 29, 2010

O complexo de Portnoy - 2

Duas transcrições de O complexo de Portnoy.
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Numa primeira, em dois trechos interligados, Philip Roth ilustra como, na infância e adolescência de Alex (e na sua!), a condição de judeu o(s) marcou indelevelmente. Todo o livro, até em designações não traduzidas, é marcado pela situação dos judeus nos Estados Unidos e no mundo e, depois, em Israel.
A conversão religiosa por que ele pergunta àquela que estava a pensar que amava, e tanto que exultavam com a falha de um período menstrual deste partindo para projectos futuros, é sobre a conversão ao judaísmo, e as consequências da resposta são devastadoras para a relação, ao mesmo tempo que, em meia dúzia de linhas - em desabafo ao psicanalista - PR tanto diz sobre nós todos, judeus ou não, na perplexidade que acompanha a ruptura de uma relação:

1. - «(…) Eu disse-lhe: “E tu convertes-te, não é?”
Fiz a pergunta em tom irónico, ou pelo menos era essa minha intenção. Mas a Kay levou-a a sério. Não foi ao ponto de me dar uma resposta solene, mas respondeu a sério.
Kay Campbell, de Davenport, Iowa: "Porque é que eu havia de fazer semelhante coisa?"
(…)
Ainda assim, pelos vistos, eu nunca mais lhe perdoei: nas semanas que se seguiram ao falso alarme, comecei a achá-la enfadonhamente previsível nas conversas, e pouco mais ou menos tão desejável como um monte de banha na cama. E surpreendeu-me que ela reagisse tão mal quando finalmente tive de lhe dizer que já não gostava dela. Fui muito honesto, está a ver, como aconselha Bertrand Russell. “Não quero andar mais contigo, Kay. Não posso esconder aquilo que sinto, tenho muita pena.” Ela chorou desalmadamente: andou pela faculdade exibindo umas olheiras horríveis por baixo dos olhos azuis congestionados, deixou de aparecer à hora das refeições, faltou às aulas… E eu fiquei estarrecido. Porque sempre pensara que era eu que a amava, e não ela que me amava a mim. Que surpresa descobrir que fora exactamente o contrário.»

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A segunda transcrição tem outro motivo ou intenção. Não resisto a ela, embora me tenha contido na sua extensão:

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2.- «Eu fazia parte da subcomissão parlamentar encarregada de investigar o escândalo dos concursos televisivos. A missão perfeita para um criptossocialista como eu: logro publicitário à escala nacional, exploração do público inocente, empresas implicadas em operações fraudulentas – em suma, a boa e velha ganância capitalista.»

quarta-feira, julho 28, 2010

O Complexo de Portnoy - 1

Este livro de Philip Roth é surpreendente. Sem ter nada de imprevisível. Mas que livro deste autor não é surpreende e não passou a ser previsível?
O Complexo de Portnoy é uma longa sessão de análise de um jovem judeu estado-unidense, decerto deitado no divã freudiano, em que ele vai contando a sua vida, tendo o livro como antefácio o diagnóstico (ou definição do chamado "complexo de Portnoy"), feito pelo psicoanalista, que apenas participa no livro com esse diagnóstico e a última e única frase do último capítulo (O FINAL DA ANEDOTA): “Muito bem (disse o médico). Então àgorrra podemos talvez começarr. Sim?”
Uma nota prévia a este escrito compulsivo sobre o livro de Roth acabado de ler: Portnoy complaint foi publicado em 1969, e só agora – em 2010 – o temos em edição portuguesa. Em 1969, Roth só tinha mais dois ou três anos que o seu Alexander Portnoy (33 anos), o que coloca este livro na linha de O animal moribundo e de Exit-o fantasma sai de cena – ou melhor: coloca estes na linha daquele –, convocando à leitura em simultâneo dos três (ou só de Exit e O Complexo) para se ter o retrato confrontado de uma vida.

O Complexo de Portnoy é um romance auto-biográfico, mas não biográfico, da juventude de um judeu nascido em Newark, que com trinta e poucos anos tem já com a extraordinária (para mim, genial) capacidade de nos contar como era a vida do(s) personagem(s) e como era o meio em que ele vivia, o mais estreito – a casa, a rua, a cidade – mas também o mais largo, tudo o que envolve uma vida.
Demorei muito tempo a lê-lo. Não por o estar saboreando. Pelo contrário. Por a sua leitura começar por me ser incómoda. Eram demasiadas punhetas, demasiadas conas, demasiadas pulsões sexuais sem o filtro da moderação da linguagem escrita. Era a análise pura e dura! Às vezes desagradável por excessiva. Título do 2º capítulo: Batendo punhetas, título do 4º capítulo: Obcecado pela cona. E os miolos condizentes com os títulos...
Passada essa barreira, de – curiosamente – raiz cultural judaico-cristã, foi a leitura que Roth me proporciona. Absorvente, fluida, conversada. Saboreada.
Acabada a leitura, diria que fiquei “freguês da análise”… mas agora é tarde porque há muito a faço, sem ajudas e sem divãs.
E fiquei impressionado, surpreendido, com a precoce lucidez do autor. Se não soubesse, e não confirmasse na ficha técnica, que O Complexo de Portnoy é de 1969, o nível de maturidade da escrita, o grau de lucidez nas leituras da realidade, o traquejo de “oficina” na construção do romance, levar-me-iam a aceitar sem rebuço que Philip Roth escrevera agora, nos seus 70 e alguns anos o que só poderia ter sido escrito, assim, quando tinha metade da idade.
Que mais dizer? Por impulso compulsivo mais nada.
Por outras motivações, apenas transcrever um ou dois trechos, e fazer justiça à excelência da tradução.

domingo, junho 13, 2010

A arte de morrer longe

O mais recente livro de Mário de Carvalho (Caminho, Fevereiro de 2010, 125 páginas) lê-se (li-o!) com muito agrado.
O escritor domina a técnica de... conversar com o leitor enquanto vai contando a história. E até parece, por vezes, que se desinteressou da históra que nos está a contar para conversar connosco. Ou para ter prazer de estar a escrever.
Mário de Carvalho é um escritor que mostra ter um enorme gozo no que faz, no que fez a sua profissão, na escrita. Tanto que até pode acontecer que se esquece do que está a contar e a quem. Mas logo recupera.

A tartaruga foi morrer longe. Aquele casal reencontra-se. Contra tudo, contra todos e contra eles próprios.
O autor também.

sábado, junho 05, 2010

João Aguiar

A notícia da morte de João Aguiar surpreendeu-nos (como todas as notícias de mortes) e doeu-nos.
Não era dos nossos amigos, não tínhamos contacto com ele há alguns anos, nada dele sabiamos nem procurávamos saber por lhe sentirmos a falta. Sentimo-la agora que soubemos da sua morte.
Foi um dos muitos convidados a vir à Som da Tinta, às nossas iniciativas, às "feiras do livro" em que colaborávamos com escolas e com escritores. E foi, sempre, nos contactos preparatórios e nas viagens que o trouxeram a Ourém, um homem exemplar. De simplicidade, de simpatia, de profisssionalismo. Como escritor que era.

Pessoalmente, como leitor, "conheci-o" pelo excelente "A Voz dos Deuses", de 1984, li outros livros seus que não me desiludiram, e gostei muito do "Diálogo das Compensadas".

Aqui fica este registo. De boas recordações. E homenagem.

sexta-feira, junho 04, 2010

Sobre a ordem (e a desordem...)

Mais um pouco de Brecht (como só ele!):

(...)
Kalle
(…) A ordem não consiste em economizar…
Ziffel
Claro que não. A ordem é o desperdício metódico. Tudo o que se abandona, que apodrece ou que é destruído, deve ser registado numa folha, com um número de referência: é isso a ordem. Mas essa vontade de ordem é, antes de mais, pedagógica. Há um certo número de coisas que são absolutamente irrealizáveis pelo homem se ele não as faz dentro das regras: as coisas absurdas.
(…) Por outro lado, nos tempos que correm, você não pode manter um pouco de humanidade sem alguma corrupção, o que é uma forma de desordem. Existe humanidade onde se encontra um funcionário que se deixe untar as mãos. Pode mesmo acontecer que com um pouco de corrupção você consiga que lhe façam justiça (…) se os regimes fascistas reprimem a corrupção, essa é bem a prova de que são desumanos.
Kalle
Não sei quem disse um dia que a merda não é outra coisa senão a meteria que não está no seu lugar. (…) Eu, no fundo, sou pela ordem. Mas um dia vi um filme do Charlie Chaplin em que ele metia a sua roupa toda numa mala; depois de ter tudo metido lá dentro, ele fechou a mala. Mas uma grande quantidade de pedaços de roupa ficou de fora, o que fazia a desordem; então, ele pegou numa tesoura e, pura e simplesmente, cortou as mangas, as pernas das calças, as meias, em resumo, tudo o que transbordava da mala fechada. Esta maneira de fazer deixou-me espantado. Vejo que você não dá grande valor ao amor pela ordem…
Ziffel
Eu limito-me a reconhecer as imensas benfeitorias do deixar-andar: milhares de pessoas devem-lhe a vida. Em tempo de guerra, muitas vezes bastou um ligeiro afastamento do que eram as ordens para salvar a vida de um homem.
Kalle
É verdade. O meu tio estava numa trincheira, Argonne, quando os soldados receberam a ordem para recuar e a “toca a mecha”. Em vez de obedecer sem pestanejar, eles resolveram, antes, comer as batatas que estavam nas brasas: foi assim que foram feitos prisioneiros, e portanto salvos.
Ziffel
Ou ainda veja lá o exemplo de um aviador. Estava tão cansado que não conseguia ler bem o quadro de comandos. As suas bombas caíram ao lado de um imóvel residencial em vez de acertar no alvo: cinquenta pessoas tiveram a vida salva. Está a ver o meu sentimento? Os homens não estão suficientemente maduros para uma virtude como o amor pela ordem. Para essa virtude, a sua razão não está suficientemente desenvolvida. Eles atiram-se para empresas idiotas: só a incúria e uma certa anarquia na execução podem preservá-los do pior.
(…)
Kalle
Podíamos resumir a coisa assim: onde nada está no seu lugar, é a desordem; onde nos lugares certos nada está, é a ordem.
(…)

quinta-feira, junho 03, 2010

Exilados, Emigrantes, Pátria - lugar de exílio e de migrantes

Quase me zango comigo cada vez que aqui venho. Como quem visita um canto dos seus lugares.
Mas, se calhar, é porque me custa, porque me doi... Por aquilo que o/a Som da Tinta não é e podia (e devia) ser. Sei lá...
Por outro lado, se queria que fosse o canto guardado para falar do que vou lendo, ou para deixar notas sobre livros, leituras, revela que estou a dar pouca importância ao que, para mim, é tão importante. Até parece que não estou a ler. E acontece que não sou capaz de estar sem ler. Agora, leio o último do Mário de Carvalho e estou a gostar. Breve terminará o gosto desta leitura e prometo(-me) aqui vir. Mas também estou a ler o Dialogue d'exilés, do Brecht, é um verdadeiro encantamento.
É uma edição francesa, de 1965, da primeira obra de Bertolt Brecht publicada, em 1961, depois da sua morte em 1956.
Num café de uma gare de caminho de ferro, dois alemães exilados conversam, pasando da filosofia de Hegel à pornografia, do papel da virtudes cívicas à necessidade da ordem, dos métodos de educação ao prazer que dá pensar (ou não dá!). Sempre com o seu exílio comopano de fundo.
Ao ler, levantando frequentemente os olhos do papel, fico a pensar (como e sem prazer) na Pátria como lugar de exílio, no Daniel Filipe, nos nossos emigrantes, dos portugueses bem de aqui, que de aqui abalaram e que de aqui se perderam. Não todos, não todos. Perco-me. A pensar na democracia, no poder do povo. Na luta.
Bretcht tem uma capacidade única de juntar lucidez (dura, por vezes brutal) e ironia (fina, delicadíssima), de nos dar a conhecer a nós próprios.
Apenas um bocadinho da conversa entre estes dois homens, tão diferentes e tão iguais, entre si e a cada um de nós, dois homens que se ncontram para beber cerveja e conversar sobre a pátria, sobre a vida. Sobre... tudo.
Aí vai:

(...)

Ziffel
(…) Eles não tinham compreendido o sentido da palavra democracia. Eu quero dizê-la no seu sentido literal: poder do povo.
Kalle
A palavra “povo” é um termo muito particular, isso nunca o chocou? Não tem o mesmo sentido dentro e fora. De fora, em relação aos outros povos, os grandes industriais, os fidalgotes, os altos funcionários, os generais, os bispos, etc., fazem naturalmente parte do povo alemão e não de um outro. Mas no interior, lá onde está o poder, você ouve sempre esses senhores falar do povo dizendo: “a turba”, “a gentalha” ou “a gentinha”, etc.; eles não fazem parte do povo.
O povo bem devia falar a mesma linguagem e dizer que esses senhores não fazem parte do povo.
Então a expressão “poder do povo” teria todo o sentido, completamente racional, reconheça-o.
Ziffel
Mas isso não seria um poder democrático mas uma ditadura do povo…
Kalle
Exactamente: seria a ditadura de 999 sobre o milésimo.
Ziffel
Isso seria o bom e o bonito se não significasse o comunismo. Você tem de admitir que o comunismo reduz a nada a liberdade do indivíduo.
Kalle
Você sente-se livre?
Ziffel
Não particularmente, se me põe a questão assim. Mas porque deveria trocar a falta de liberdade em regime capitalista pela falta de liberdade em regime comunista? Parece que você aceita, de qualquer maneira, que há falta de liberdade em regime comunista.
Kalle
Sem qualquer dificuldade. Não vou estar com charlatanices. Ninguém é totalmente livre quando detém o poder, muito menos o povo. Também não o são os capitalistas, que é que pensa? Não são livres, por exemplo, para deixar um comunista instalar-se como Presidente da República. Ou para fabricar a roupa que é necessária, quanto muito fabricam a que possam vender. Por outro lado, em regime comunista, não é permitido deixar-se explorar: ora aqui está uma liberdade suprimida.
Ziffel
Deixe-me dizer uma coisa: o povo não toma o poder a não ser em caso de necessidade extrema. O que resulta do homem só pensar em caso de extrema necessidade. Quando a água lhe chega ao rés do pescoço. As gentes têm medo do caos.
Kalle
Não é medo do caos... eles acabarão por se encontrar em caves, nos baixos de casas bombardeadas, tendo, nas suas costas, SS de revólver em punho.
Ziffel
Não terão nada na barriga, não poderão sepultar as suas crianças, mas a ordem reinará e quase não terão necessidade de pensar.

Ziffel empertigou-se. A sua atenção que, durante as divagações políticas de Kalle, tinha esmorecido, reanimou-se.

Ziffel
Não queria que ficasse com a impressão que critico essa gente. Pelo contrário. Ser lúcido é difícil. Todo o homem razoável evita-os quanto pode. Em países como aqueles que conheço, onde uma tal dose de reflexão é indispensável, não é possível viver. Aquilo a que chamo viver...


Emborcou o seu copo com ar ansioso. Pouco depois, separaram-se, afastaram-se cada um para seu lado.


(Ah!, como eu gostaria de "pôr isto em cena",

encenar e - sei lá... - fazer de Ziffel ou de Kalle,

dar corpo a estes personagens!)

domingo, maio 16, 2010

Eu sou português aqui

Na viagem matinal pelos blogs - nem sempre possível... - passei pelo papoila25 e encontrei esta mensagem relativa a um serão diferente.
Obrigado, embora a mim não fosse dirigida. Gostei... e deu-me a nostalgia!
Antes mesmo da sua abertura formal, com Prémio Nobel e televisão (assim acontece), a livraria e editora Som da Tinta teve a visita do José Fanha, que ofereceu alguma da sua poesia aos portugueses daqui, oureenses presentes. Foi muito bonito. E prometedor!
E foram sete anos que, como servidores, a cultura quisemos servir. Valeu a pena. Mas tudo tem um fim, sobretudo quando esse fim é desejado por outros e apressado. Mas... valeu a pena!
Lembrei, nostálgico, esse segundo momento da Som da Tinta (o primeiro fora uma exposição de pintura). Que entusiasmo tínhamos. Era um nosso projecto para os dias do resto da nossa vida. Outros havia. E há! Com eles continuamos. Vivos. Na luta.
Também, o pequenino projecto de não deixar morrer as sementes que a Som da Tinta quis lançar. E atirou ao chão que pisamos. Como este blog, um tanto abandonado. Mas aqui, português e oureense.

segunda-feira, maio 03, 2010

Obrigado, Andrés

Este Andrés é cá um urug(u)ajo!
É, decerto, o mais português (e o mais oureense!) de todos os uruguaios.
Obrigado, amigo (e camarada)!

sexta-feira, abril 09, 2010

Kusturica em Ourém - Gato Preto, Gato Branco

A segunda sessão de Kusturika em Ourém, que se deseja que seja de noites de cinema no Museu Municipal, venceu de novo a concorrência do Benfica-Liverpool, e... não desmereceu a vontade da equipa promotora. Salinha bem composta!

Gato Preto, Gato Branco não é Underground. Depois de Underground, de certo modo continuando Underground (na banda sonora). quase se pode dizer que pretende apagar Underground. O mesmo humor, a mesma maestria no contar história(s) de forma diferente, aparentemente caótica, o mesmo (e melhor) manejo da câmara... mas a despolitização antitética da politização, que teria sido etiquetada de excessiva (pró-sérvia), de Undeground.

De Gato Preto, Gato Branco - que já vira antes, sem antes ter visto Underground -, talvez sobretudo me tenha ficado a vontade de voltar a ver Underground. Coisas minhas...

E lembrei, e trouxe comigo, a lembrança do que considero das coisas mais bonitas que tenho visto em cinema: o campo de girassóis a encher-se de risadas e de jogo de juventude e de amor.

Aliás, é sobre esses planos que me apeteceria dizer mais, e não sobre as escatológicas cenas de mergulho nos dejectos e de servirem os gansos de toalha ou lençol de banho de limpeza, que talvez tenham tido mais efeito que esses planos... Mas seria isso que desejava Kusturika, que queria fazer uma comédia, que queria fazer o que fizesse rir porque, para pensar em coisas muito sérias, chegara (e teria abusado, a juízo de alguns...) Underground.
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Gato Preto, Gato Branco é: algum desvario circense e uma caricatura etnográfica desenfreada (como já li, mais ou menos...) e, de certo modo, banda desenhada com banda sonora incorporada e irresistível.

Para acabar o apontamento, duas frases rascunhadas às escuras:

  1. «a um casamento azarado pode fugir-se, mas não ao destino»

  2. «cala-te quando falas comigo!»
Venha a terceira sessão (em que, infelizmente, não poderei estar...)

quinta-feira, abril 08, 2010

Rubem Fonseca - O Seminarista


Páginas 84/5:

« (…) e fui me arrastando, arrastando como um verme. Então me lembrei de uma frase que li num dos livros de Bruce Chatwin, sobre a importância da postura ereta, ainda mais do que o desenvolvimento da linguagem, ainda mais do que a presença do superego, entre esses atributos do homem que o elevaram acima do reino animal, a postura ereta era o mais importante. Anda, seu filho da puta, eu disse para mim, fica em pé, ereto, seu merda, ereto.
Então, com grande esforço me ajoelhei, depois me ergui lentamente, ficando em pé. Ereto. Poder sair do lixo sem rastejar me deu uma das maiores alegrias da minha vida. Fui andando, cambaleando mas ereto, dando passos lentos, mas ereto, como um homem deve caminhar, ereto. (…)»
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(tal-qual na edição original, segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009... mas custa trans-escrever erecto sem c...)

quarta-feira, abril 07, 2010

Rubem Fonseca - sobre Lima Barreto e o futebol

Há dois ou três autores assim. Estou a lê-los… e só me apetecia ter escrito aquilo. Por isso, sublinho, dou cabo dos livros, transcrevo.
Rubem Fonseca é um deles. Estou a ler O Seminarista:
Págs. 73/4:
«"(… ) além de grande escritor, era um cara interessante, remava contra a maré, odiava arranha-céus e futebol. De futebol, naquela altura como até hoje, todo mundo gostava. Mas então era um esporte de brancos ricos, e isso o mulato pobre, recalcado, que comia o pão-que-o-diabo-amassou, odiava, com toda a razão. E o futebol continuou sendo um tumor discriminatório até que o Vasco da Gama fez um time com pretos e pobres e ganhou o campeonato em 1923. Por causa dos pretos e dos pobres do time o Vasco foi expulso da Liga de Futebol, mas o golpe na discriminação já havia sido dado e com o tempo a criolada e os pés-rapados dominaram os campos. Mas em 1923 o Lima Barreto já estava morto… ele morreu em… vê aí no livro."
"Primeiro de Novembro de 1923."
…»

Afonso Henriques de Lima Barreto (Rio de Janeiro, 13.05.1881 - Rio de Janeiro, 01.11.1923), foi um jornalista e um dos maiores escritores libertários brasileiros. Filho de mulato nascido escravo e de "escrava agregada", as lembranças e vivências do fim do período imperial no Brasil e da abolição da escravatura exerceram influência na importante obra de Lima Barreto.

terça-feira, abril 06, 2010

Rubem Fonseca-Petrarca (ou vice-versa)

Bendito seja o dia,
e o mês,
e o ano,
e a estação,
e o tempo,
e a hora,
e o momento,
e o formoso país,
e o lugar
em que fui preso aos dois belos olhos que me cativaram...
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(O Seminarista... aqui voltarei... breve!)
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(o momento foi a Festa do avante!,
o lugar Jamor,
o mês Setembro,
o ano 1978
... não foi?)

sexta-feira, abril 02, 2010

Underground - Kusturika

Venho de regresso de uma noite diferente. Em Ourém. Porque houve quem a proporcionasse. Iniciativa e trabalho de uma equipa (julgo eu...) que merece parabéns e estímulo
Um serão cultural. De cinema. No Museu Municipal. O ciclo Kusturika. Em Abril.
Venho satisfeito. E impressionado. Não diria em estado de choque... impressionado, está bem.
Não sabia se tinha visto Underground. Não tinha. É Kusturika, em 1996, a contar-nos, doridamente (muito doridamente, embora às vezes não parece, e nos faça sorrir e rir), o seu País, a Iugoslávia. Que era uma vez...
Só três frases gravadas (e não por serem das últimas, embora por razões kusturikas o sejam), e para ficarem como registo desta primeira noite... do resto das nossas vidas oureenses?

  1. Uma guerra só é mesmo uma guerra se irmão mata irmão.

  2. Era uma vez um País. (a penúltima do filme, também sub~título, como também é «Mentiras de Guerra»)

  3. Esta história não tem fim. (a última do filme.)

domingo, março 21, 2010

Estado de guerra

Estado de guerra

  • o sem sentido do estado de guerra em que estamos vivendo, filmado (bem) do lado dos Estados Unidos da América (mas haverá outro lado, perguntar-se-á...)

Enquanto (vi)via, lembrei-me bastas vezes de Apocalipse Now

  • a/uma tomada de consciência (do lado dos EUA... mas haverá outro?) do sem sentido do sem sentido do estado de guerra em que estamos vivendo.

quarta-feira, março 17, 2010

À conversa com... Woody Allen

‘Tás porreiro, pá?[1]
‘Tás velhote… mas não és o único, aliás somos do mesmo "ano das sortes” (1935)! Deixa lá. Não há-de ser nada...
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Há que tempos que não te via. Até porque há muitos meses não íamos (ela e eu) ao cinema. Temos visto filmes, mas “ir ao cinema” é outra coisa.
Gostei de estar contigo. Estás cada vez mais na mesma. E ainda bem.
Como sabes (não sabes, mas é como se soubesses), sempre apreciei muito esse teu lado bretchtiano levado para o cinema. A tua maneira de contar, como te esforças para que não haja paredes entre nós, nem de vidro no teatro, nem de tela no cinema, esta maneira de estarmos à conversa.
Desta vez, neste teu filme, várias vezes nos interpelaste enquanto contavas coisas cá da gente, melhor, cá das gentes que somos, e pelos caminhos por que andamos.

Gentes comuns, como dizia o outro? Mas quem é que não é gente comum, quem não nasce do acaso de um espermatezóide que encontrou o caminho e sofre a angústia de ir deixar de ser… talvez hoje porque não foi ontem? Quem?! O frustrado genial Prémio Nobel da química quântica?, o genial contador de vida (e de Nova Iorque em cinema) com um nome estranho e judeu e conhecido por Woody Allen?
Pois... Chamaste-nos de lado, aos que perceberam e quiseram acorrer à tua interpelação, para umas pequenas conversinhas de “ao pé da orelha”, que se calhar passaram desapercebidas a muitos de nós, mas que só eram – acho eu… – a forma (o truque?) de nos dizeres, a todos, que era assim que estavas a contar a estória. Sem nada entre nós. Nem “na manga"!...
Muito das nossas vidas sobre que conversavas connosco até pareciam nem serem nossas, naturais, do dia-a-dia, dado o traço grosso, finíssimo!, caricaturado, com que fazias os desenhos, mas tudo era a nossa vida, bem cá de dentro de cada um. E tu sabias. E por isso nos interpelavas.
Anda é tudo distraído. Aliás, é o estado normal. Em que nos querem congelar.
Como tu chamavas a atenção, nem os que te acompanhavam no contar da estória nos viam, ou “se viam” (a si), quando tu nos vias e connosco falavas directamente, como os “do lado de cá”. Talvez com a excepção da miúda loura, e cretina, e estúpida, que não era nem estúpida, nem cretina mas que era loura e tinha uns olhos lindos e um corpinho para começar a valer uns 5 e ficar nos 8 (e sem favor!).
Olha… gostei de conversar contigo. Saudações à companheira que te tenha calhado em destino para este momento, ou que se te tenha destinado por ser médium… Boa sorte!


Aparece no Zambujal!
Era giro...

PS: Só uma espécie (só uma espécie…) de conselho: devias ler um autor que referes, um tal de Karl Marx. Fazia-te/nos bem.
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(1) - Poupo-te às explicações de como esta amigável elocução foi conspurcada. Coisas lusas...

domingo, fevereiro 14, 2010

Livros em leitura

Passo por aqui e vejo que desde 5 de Janeiro nem uma mensagenzinha. Acho mal.
É certo que o último post era mesmo uma mensagem que não teve o efeito desejado (e endereçado)... mas acho mal não ter aqui voltado.
Não que me preocupe que possam pensar que não estou a ler... mas não queria que este blog de leitura fosse desaparecendo. Seria como se o/a Som da Tinta fenecesse definitivamente.
Tenho lido, sim senhor.


Uma novela policial do Dashiell Hammet. Interessante.
Um livro de crónicas do Nuno Lobo Antunes (sempre, antes de adormecer) que me foi muito amigavelmente oferecido. Umas crónicas... curiosas. Algumas agradando-me muito, outras não tanto. Mas um escorreito contar de vivências, aqui e ali perfeitamente conseguido. Talvez, para as (des)horas a que leio, não propiciando dormires tranquilos porque há por ali demasiada doença... e logo cancros. Mas lá vou dormindo. A crónica sobre a IGV tem que se lhe diga. Terá... Até porque me parece séria, honesta. Não política na péssimo uso que dão ao belo vocábulo, Talvez cá volte.
Um folhear um pouco à toa de uma outra oferta amiga, o Dicionário Lula. Vale a pena ir acompanhando. O homem, e como é, ajuda a compreender umas coisecas da maior importância. Para o nosso futuro. Aquele em que não estaremos mas para que queremos contribuir.
Livro vindo na bagagem do Brasil. Como o do Dashiell, como muitos outros.

E este. Este que me está absorvendo. E a que não chamaria leituras. Que foi editado há duas décadas e que é de urgente reedição.

terça-feira, janeiro 05, 2010

No Comboio Nocturno...

No princípio, foi o gesto. Da oferta e da dedicatória amigas e solidárias. Só depois foi o verbo, foram as palavras. Da dedicatória. Das 400 páginas do livro. Das 400 páginas de Comboio Nocturno para Lisboa, que me acompanhou nas viagens deste mês. Umas para longe, outras antes de fechar a luz para adormecer.
Não sei se o livro tem muitas referências nos locais em que se escreve sobre livros. Por razões (e sem razões também) ando afastado dessas leituras. Mas tenho indícios de que está a ser um êxito de edição. A quem falo dele me respondem que já o conhecem. Alguns porque o têm… nenhum porque o tenha lido ou querido comentar. A edição portuguesa que me foi oferecida em meados de Novembro é a 3ª edição, a brasileira (Trem da noite em vez de Comboio nocturno…), está bem visível nos escaparates, e folheei-a na casa dos amigos que o tinham comprado, até para confrontar pedaços das traduções.

Um livro… interessante. Muito significativo do tempo que vivemos. E não me refiro aos anos, talvez nem às décadas. Refiro-me ao tempo sem medida certa que vivemos.
O autor, o narrador, o(s) personagem(ns) vivem e especulam sobre a sua existência. Enquanto é, e para depois de ser. Como indivíduos. Relendo a dedicatória, ncontrei lá, no livro, a natureza humana, é certo, mas bem limitada, bem confinada à individual natureza humana. E creio eu estar certo de que há uma segunda natureza humana, que é a condição social, a que transcende o indivíduo que cada um de nós é.
Está ela, esta segunda (but not the least!) natureza humana, ausente do livro? Claro que não, claro que não poderia estar. Mas faz figura de figurante, de paisagem, de cenário em que se movem os personagens. Cada um, um. E cada um à procura de si. De si próprio.
No livro, há parcelas. Mas não se vêem somas, a não ser ao longe, e reduzidas a simples conjuntos de parcelas. Não outra coisa. Somas, qualitativamente diferentes das parcelas!
A definição do substrato do livro – que ensaio filosófico, ou de filosofia, é – está no discurso (Reverência e aversão perante a palavra de Deus) do personagem central que, ao terminar, diz, em jeito de ameaça "E que ninguém (quem?, Deus?) me obrigue a escolher". Mas poderia/quereria ele escolher, poderá/quererá cada um de nós escolher? Ou poderá, cada um de nós, não escolher, ou escolher não escolher?
Aliás, e em parênteses, devo dizer que a evolução e degenerescência Amadeu Prada é muito bem dada. Porque “escolheu” não deixar de ser o que era! Ou, melhor dizendo, não teve força para deixar de ser o que era, um indivíduo do/no mundo das catedrais e, noutra acepção, da classe dominante, com incursões diletantes por posturas de resistente.
Não me vou alongar. Só duas ou três notas sobre um dos motivos da oferta amiga: o meu testemunho vivo, vivido, “desse tempo”.
No livro – interessante, interessante – só há resistentes, não há resistência, não há colectivos e suas dinâmicas, e quando se pretende (se se pretende) lá chegar, talvez através do João Eça, falha em toda a linha; no livro, não há repressão, há repressores, há “homens maus”, há esbirros como o personagem bizarro do Mendes (e acólitos que aparecem em aulas de alfabetização…).
A dramatização do triângulo amoroso/passional Jorge-Estefânia-Amadeu através da decisão de executar quem, por saber demais, poderia pôr em risco a resistência, e a decisão (por amor, por paixão? porquê?) de não o fazer é… caricata.
O Tarrafal tem um relevantíssimo significado na nossa História, recente ou não. Foi a criação do campo da morte lenta, em 1936. Foi o clímax/símbolo da repressão fascista. Mas… o último preso foi transferido em 1953 (Francisco Miguel para Caxias), e o campo foi oficialmente fechado em Janeiro de 1954, tendo sido reaberto em 1962 apenas para os presos das colónias e em razão (!) da guerra colonial.
A figura do juiz, pai de Amadeu, só teria alguma coerência se fosse juiz do chamado Tribunal Plenário, criado para julgamentos políticos (antes deles era em tribunais militares), porque as instituições judiciais não estavam directamente ligadas à repressão fascista. O tal “Tribunal Plenário”, enquanto existiu (de 1945 a 1974, em Lisboa e no Porto) foi constituído por meia dúzia de juízes, escolhidos “a dedo”.
O autor, sem prejuízo da erudição que fundamenta as suas reflexões e do seu evidente interesse por esse período da História de Portugal poderia (e deveria) ter-se informado minimamente para não ser tão pouco (ou nada) rigoroso com figuras e factos que refere e que são históricos.
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Foi uma boa leitura a partir de um gesto que muito me tocou.