sábado, abril 25, 2009

Memória do 25 de Abril?

Amanhã, 25 de Abril, que já hoje é, vou "partilhar experiências" a partir do comentário a este livro, de um jovem antropólogo, Tiago Matos Silva, que ainda mais jovem era quando o publicou, há 7 anos.
É um livro interessante, construído sobre depoimentos de "informantes" de 4 famílias (1 de "direita", 2 do "centro", 1 de "esquerda"), com bem discutíveis "etiquestas". As conclusões do livro são, também, uma verdadeira auto-crítica pois denuncia o que o próprio autor fez ao escolher os "informantes", as famílias que ouviu. Talvez, sobretudo, para procurar respostas para as muitas dúvidas que tinha. Dúvidas que estão claras nessas conclusões, em que o vi como um 17º informante. Não me deixando, a mim, dúvidas sobre a sua boa-fé...

Mas. Mas, ao fim destes 7 anos que passaram após a publicação, estou muito curioso em tentar ver como essa boa fé resistiu, em que se tornou, como se confrontará o autor com a experiência, com as vivências, com algumas irrefutáveis verdades históricas, com a crítica às amostras escolhidas e a sua não representação do universo da realidade, tudo coisas que tentarei partilhar. Com ele, e com quem estiver na Biblioteca Municipal de Ourém.

As malhas que o impéri(alismo) ideológico tece!

segunda-feira, abril 13, 2009

No centenário de Soeiro Pereira Gomes

A entrevista com Manuela Câncio Reis (com 99 anos!), em O Mirante, pode ler-se aqui.

domingo, abril 12, 2009

Nos 100 anos de Soeiro Pereira Gomes...

... é interessante ler esta entrevista com Manuela Câncio Reisem

sexta-feira, abril 03, 2009

Leituras desfasadas da "crise"

Estávamos numa outra livraria, na Arquivo, de Leiria, um espaço de que gosto... apesar de algumas más recordações. Passava os olhos pelas capas, naquele exercício tão agradável (mas não só, nem sempre) de saborear títulos, autores, grafismos. Muitos sobre a "crise". Num me detenho

"43 reflexões de figuras de referência da Universidade e da vida económica portuguesa". Nem um com uma reflexão marxista-leninista, resmunguei e pousei-o. Ou melhor: rejeitei-o. Depois, repeguei-lhe. O Carvalho da Silva? A sua leitura é, decerto, sindical e para "equilibrar" a do João Proença. Folheei-o. Excerto do Krugman? Tinha de ser! Para fechar o livro, esta verdadeira provocação idiota de um qualquer Arnaldo José da Silva dizendo que "Não existe crise!!! Existe sim, uma propaganda negativa e destruidora feita pelas emissoras de televisão em troca de audiência. Desligue a televisão e trabalhe. Você surpreender-se-á com o seu sucesso!"... A culpa dos trabalhadores, claro!, que vêm muita televisão e trabalham pouco...

Em vez de o pousar apeteceu-me atirá-lo porta fora. Mas podia acertar em alguém...

Continuei a folheá-lo. Se calhar estava a fugir de ler a "reflexão" do meu ex- jovem camarada, colega de brilhante carreira académica, do António Mendonça: A natureza da crise actual.

Comprei o livro, claro. Já li umas páginas. As do António Mendonça, obviamente. Que confrontei com umas outras páginas de sua autoria (em colaboração com o Nelson Ribeiro), num outro livro que fui buscar à estante e de que, de vez em quando, me sirvo. Sobretudo de O marxismo e a crise económica actual, um muito interessante (e pedagógico) estudo de autoria desses colegas.

Que experiência curiosa. A edição é da Caminho, na Biblioteca Universidade Popular (do Porto), animada pela saudoso Armando Castro. De 1985. Dos tempos da esperançosa, ilusória, traidora perestroika. Como eles eram marxistas! Como tantos ficaram orfãos da União Soviética! E, hoje, em que estado estão alguns que até pareciam ter uma certa consistência ideológica...

O interessante é que, ao ler o texto de hoje, ele me parece, nalguns trechos, no diagnóstico, uma tradução para "capitalês" de partes do estudo de há quase 25 anos. No meio de uma incontáveis paradigmas e modelos, que até irritariam o leitor mais benevolente, a tradução de capitalismo por economia de mercado e outras, a ausência de qualquer referência a Marx, marxismo, socialismo, mais-valia, exploração, trabalhadores, essas coisas, brrr..., enterradas avestruzmente, por total omissão, como se de um espectro se tratassem (e tratam!).

Daqui deriva, apesar da utilidade das "hipóteses de apreensão das características fundamentais da crise económica actual", desde que retrovertidas para língua de economista sem fantasmas, a codificada conclusão (bem diferente das de 1985, por oportuno esconjuro ou exorcismo) de que a crise económica actual estaria a abrir "um processo de reconfiguração do modelo de organização económica e de intervenção dos poderes públicos que aponta para um maior controlo das dinâmicas de internacionalização das economias e da globalização para uma recuperação dos instrumentos e do papel da política económica a nível nacional e para uma reestruturação e reforço do papel das instituições económicas internacionais. Em síntese (...) é bem provável que a crise actual represente o fim do modelo e do paradigma económico que a crise dos anos 70 do século passado fez emergir, que a crise, posterior, dos anos oitenta consagrou em termos de paradigma e que a expansão dos anos noventa fez consolidar como modelo global." O fim "disto" e o começo de "quê"?
Será "isto" (o modelo paradigmático...) o capitalismo? O "quê" que se seguirá (ao paradigmático modelo) será o socialismo? Por obra e graça de quem? Ou com luta? E que luta? E de quem?

Ora paradigma para o modelo. Que pena que isto me faz!