segunda-feira, maio 30, 2011

Página de "dias de agora" - aqui

Nos “50 anos…” deixei aqueles três nomes - Álvaro, Graça, Saramago - como minhas referências históricas, porque na História estão aqueles três homens que conheci e com quem convivi.

E, como me lembrei enquanto decorria a sessão na associação-a-criar Conquistas da Revolução, a eles deveria ter juntado o nome de Vasco Gonçalves.

Porque a nossa luta, na associação a criar, é a de evitar que um homem com aquela dimensão histórica (e humana, se não é redundante...), e com a enorme importância que teve na nossa História, seja desta apagado, ou que nela apenas fique como insultuosa caricatura que dele querem traçar aqueles que o não conseguem apagar. Como se não tivesse existido, ou nenhuma importância tivesse tido.







Acrescentei, agora mesmo - hoje -, o nome de José Gomes Ferreira, que apenas conheci de ler – e de ver, ao longe, com os seus longos cabelos brancos e ar bom e de poeta –, mas que, ao “descobrir” os seus Dias Comuns (vão no 5º volume), foi como se tivesse vivido com ele o que vivi enquanto ele escrevia o tempo e os acontecimentos que ambos vivemos. Com 35 anos de distância entre nós, vivendo o mesmo tempo e os mesmos acontecimentos. Que ele me fez reviver como que iluminados pela sua cultura, lucidez e militância.

E, depois dessa “descoberta” que a estes “dias de agora” me trouxe, a redescoberta da “memória das palavras ou o gosto de falar de mim” (que título!) e da “imitação dos dias” (que título!).

São os meus homens históricos.

sexta-feira, março 04, 2011

Gerry Adams


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A propósito de uma notícia (sobre as eleições na Irlanda, a 25 de Fevereiro) que vai sair no anónimo do sec. xxi, fui buscar, a uma estante, A Rua e outros contos, de Gerry Adams, de 1992, editado em português em 2002 (em tradução que muito me insatisfez), pela Campo das Letras.

Foi uma revisita. Saborosa. Quando lera o livro gostara de conhecer aquela faceta do "lider" do Sinn Féin, partido que estava no grupo em me integrei na tarefa no Parlamento Europeu, e que visitara em Belfast.
Sobretudo me tinham agradado os contos A rua e Como Paddy McGlade entrou em estado de graça, tendo deste último a reavivada memória do projecto de pôr em teatro, ou dramatizar, a história do filho que, excelente homem, estava frequentemente bêbado, o que dava enorme desgosto à mãe com quem vivia, e que se curou por ter tido uma "revelação" numa conversa com um "Anjo" num cemitério onde o levara uma grande bebedeira (a última...), e que a mãe atribuiu a intervenção de "Nossa Senhora", e a uma novena bem encomendada.

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Pennac - La Débauche ou A Sacanice

É sabido - por quem de mim sabe umas coisas - que tenho pelo escritor Daniel Pennac uma grande admiração. Desde Comme un roman. Julgo ter lido tudo que publicou, ou pelo menos tudo o que vou sabendo que publicou. Agora, em Paris, lá andei a vasculhar prateleiras de livrarias, e descobri uma coisa que procurava, Ecrire. Deste livro falarei.
Hoje, escrevo sobre outro, que o Ecrire me fez retirar de um amontoado de livros, e reler. Este, a Sacanice, é um livro de banda desenhada, que Pennac fez com Tardi, e que deve ser o único Pennac que li em português, que a Terramar editou em 2000.
(a edição é cuidada, a tradução aceitável... tirando o título que não sei porque carga de água transformou La Débauche em A Sacanice, quando se está mesmo a ver que O Deboche!)

É um verdadeiro Pennac, com os seus personagens excessivos (débouchés?), o seu ambiente parisiense, com Tardi a dar boa réplica (e a tradução portuguesa também, tirando o título).
A banda desenhada é dedicada:
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Aos despedidos
Aos dispensados
Aos flexibilizados
Aos redimensionados
Aos precarizados
Aos globalizados
Em suma, a todos os que estão a ser cilindrados.
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Isto em 2000. Passaram mais de 10 anos, mais de uma década e a dedicadórias tornou-se ainda mais actual.
Deixo um bocadinho de La Débauche, em que, numa jaula do Jardim Zoológico, há uma jaula com um animal devidamente identificado:
Homo sapiens - Desempregado - Europa -
Homo sapiens -Labore carens - Europaeus


sábado, fevereiro 26, 2011

Contos não políticos - A amizade nas mãos

Estávamos num intervalo de acções de campanha eleitoral. Lanchávamos e conversávamos, no Centro de Trabalho de Alpiarça. Falávamos de "coisas de África", da guerra.
O Jerónimo contava alguns episódios por ele vividos. De forma vivida, viva. A merecer ser contada e ouvida (ou lida) para além daquela conversa de lanche entre camaradas. Disse-lho. "É pá!, isso devia ser escrito... aliás, acho que deveriam ser publicadas em livro algumas das tuas intervenções... mas estou a falar destas coisas não políticas..."
Ele olhou para mim, com um ar meio surpreso... "Se calhar..." e acrescentou, como se só para ele, timidamente, "... mas eu já publiquei umas coisitas... não leste?..., até já me publicaram um conto não político... e foi um sucesso...".
Não sabia! Disse-o, quase envergonhado.


E ele contou. Naquela conversa. Ali. Informal e amiga.

"Pois foi. Convidaram-me. Eu escrevi. E depois, vê lá tu..., o Marcelo Rebelo de Sousa, lá no programa dele, falou do livro, e fez uma referência elogiosa ao conto do Jerónimo... E mais: no lançamento do livro no Corte Inglês, o actor - não me lembro do nome... - que fora encarregado de escolher um texto do livro para ler, escolheu o meu. E leu-o muito bem. Houve alguns rangeres de dentes... Foi giro.»
E ficou por ali a conversa. Ou melhor: mudou de assunto, até porque via-se que o Jerónimo nem tanto queria ter dito sobre o seu conto A amizade nas mãos e os e Pis, nascidos de uma linda cerejeira e de um belo castanheiro, duas árvores que "cresceram juntas e fizeram uma grande amizade".
Logo que me foi possível comprei o livro (ah!, a falta que me faz o Som da Tinta...), e gostei muito (mesmo muito!) do conto não político do Jerónimo de Sousa. Quando nos encontrámos, na vez seguinte (antes do começo da reunião do Comité Central, logo a seguir às eleições), disse-lho, quando ia a caminho do meu lugar. Sorriu, com timidez e - também - alguma não escondida satisfação: "Ah! leste?... que bom teres gostado..."

Ecos do Som da Tinta - 1

Ainda aqui não voltei depois da sessão, na Biblioteca Municipal, sobre Memórias da/o Som da Tinta.
Para alguns, foi (para mim foi)... comovente. Lembrar e encontrar. Lembrar alguns que já nos deixaram, encontrar tantos que quiseram vir encontrar-se com aquelas memórias!
Todo o trabalho que está por detrás destas Memórias, o registo da documentação (para que não se perca...), a lembrança em iniciativas como aquela, não pode ficar sem aqui ser referido. Com gratidão.
A tudo isto voltarei. Como vou dizendo. E nem sempre cumprindo. Ou só adiando...

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Memórias do Som da Tinta

E para aqui está, desde 30 de Junho, este blog abandonado. Imperdoável!
Quantas vezes, me sentei, aqui, com a intenção - "desta vez é que é!" - de o reanimar, de deixar umas notas sobre leituras que não parei de fazer, sobre o/a Som da Tinta e as suas memórias?
Quantas vezes? Mas, ao abrir o computador, ao ver os blogs, e os seus comentários, ao passar pelos mails, ao ter de acabar um texto para uma solicitação, lá ficava a intenção sem ser concretizada.
Talvez, sobretudo, um "acto falhado", talvez uma fuga a confrontar a dura realidade de o/a Som da Tinta não existirem já.
Mas, se isso também está na origem da ausência - e essa dura realidade é... uma realidade -, tenho de reagir. Assim me habituei!
Vamos lá, então.
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A Câmara de Ourém, na sua actividade cultural Museu/Biblioteca, além de outras louváveis iniciativas, resolveu acordar as Memórias do Som da Tinta, reavivar os seus Ecos.
Vai ser no próximo sábado, 12, e vai ser um reencontro.
Para que tal venha a acontecer muito trabalho se fez.
Decerto mais importante que este reencontro pontual foi a criação de um arquivo digitalizado de muita documentação sobre o/a Som da Tinta. Trabalho relevante, para que demos a nossa contribuição, facultando informações e dados, mas que foi, sobretudo, dos serviços da Câmara.
As memórias, assim, não se perdem, há um arquivo a lembrar o que foi uma actividade que "mexeu" com Ourém, ainda que muita gente não tenha dado por ela, ou não lhe tenha atribuido importância, ou a tenha esquecido.
Antes da sessão, muitos de nós, que estivemos ligados ao projecto e ao que foram 7 anos muito intensos, vamos juntar-nos num almoço-convívio no Xico Santo Amaro.
Também, e sempre, para lembrar os que, logo no começo da curta caminhada, a morte levou do nosso convívio e esforço colectivo, o Luís Nuno e o René.
A eles quero dedicar esta mensagem. Deles se falará nas memórias do Som da Tinta!