Estávamos num intervalo de acções de campanha eleitoral. Lanchávamos e conversávamos, no Centro de Trabalho de Alpiarça. Falávamos de "coisas de África", da guerra.
O Jerónimo contava alguns episódios por ele vividos. De forma vivida, viva. A merecer ser contada e ouvida (ou lida) para além daquela conversa de lanche entre camaradas. Disse-lho. "É pá!, isso devia ser escrito... aliás, acho que deveriam ser publicadas em livro algumas das tuas intervenções... mas estou a falar destas coisas não políticas..."
Ele olhou para mim, com um ar meio surpreso... "Se calhar..." e acrescentou, como se só para ele, timidamente, "... mas eu já publiquei umas coisitas... não leste?..., até já me publicaram um conto não político... e foi um sucesso...".
Não sabia! Disse-o, quase envergonhado.
E ele contou. Naquela conversa. Ali. Informal e amiga.
"Pois foi. Convidaram-me. Eu escrevi. E depois, vê lá tu..., o Marcelo Rebelo de Sousa, lá no programa dele, falou do livro, e fez uma referência elogiosa ao conto do Jerónimo... E mais: no lançamento do livro no Corte Inglês, o actor - não me lembro do nome... - que fora encarregado de escolher um texto do livro para ler, escolheu o meu. E leu-o muito bem. Houve alguns rangeres de dentes... Foi giro.»
E ficou por ali a conversa. Ou melhor: mudou de assunto, até porque via-se que o Jerónimo nem tanto queria ter dito sobre o seu conto A amizade nas mãos e os Lá e Pis, nascidos de uma linda cerejeira e de um belo castanheiro, duas árvores que "cresceram juntas e fizeram uma grande amizade".
Logo que me foi possível comprei o livro (ah!, a falta que me faz o Som da Tinta...), e gostei muito (mesmo muito!) do conto não político do Jerónimo de Sousa. Quando nos encontrámos, na vez seguinte (antes do começo da reunião do Comité Central, logo a seguir às eleições), disse-lho, quando ia a caminho do meu lugar. Sorriu, com timidez e - também - alguma não escondida satisfação: "Ah! leste?... que bom teres gostado..."
2 comentários:
Vou ver se encontro o livro por aqui. Duvido, mas... nunca se sabe.
Beijo.
Mais um livro para oferecer à minha Rita. E para contar na escola aquando dos dias de leitura.
Um abraço desde Vila do Conde.
Jorge
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