quarta-feira, julho 28, 2010

O Complexo de Portnoy - 1

Este livro de Philip Roth é surpreendente. Sem ter nada de imprevisível. Mas que livro deste autor não é surpreende e não passou a ser previsível?
O Complexo de Portnoy é uma longa sessão de análise de um jovem judeu estado-unidense, decerto deitado no divã freudiano, em que ele vai contando a sua vida, tendo o livro como antefácio o diagnóstico (ou definição do chamado "complexo de Portnoy"), feito pelo psicoanalista, que apenas participa no livro com esse diagnóstico e a última e única frase do último capítulo (O FINAL DA ANEDOTA): “Muito bem (disse o médico). Então àgorrra podemos talvez começarr. Sim?”
Uma nota prévia a este escrito compulsivo sobre o livro de Roth acabado de ler: Portnoy complaint foi publicado em 1969, e só agora – em 2010 – o temos em edição portuguesa. Em 1969, Roth só tinha mais dois ou três anos que o seu Alexander Portnoy (33 anos), o que coloca este livro na linha de O animal moribundo e de Exit-o fantasma sai de cena – ou melhor: coloca estes na linha daquele –, convocando à leitura em simultâneo dos três (ou só de Exit e O Complexo) para se ter o retrato confrontado de uma vida.

O Complexo de Portnoy é um romance auto-biográfico, mas não biográfico, da juventude de um judeu nascido em Newark, que com trinta e poucos anos tem já com a extraordinária (para mim, genial) capacidade de nos contar como era a vida do(s) personagem(s) e como era o meio em que ele vivia, o mais estreito – a casa, a rua, a cidade – mas também o mais largo, tudo o que envolve uma vida.
Demorei muito tempo a lê-lo. Não por o estar saboreando. Pelo contrário. Por a sua leitura começar por me ser incómoda. Eram demasiadas punhetas, demasiadas conas, demasiadas pulsões sexuais sem o filtro da moderação da linguagem escrita. Era a análise pura e dura! Às vezes desagradável por excessiva. Título do 2º capítulo: Batendo punhetas, título do 4º capítulo: Obcecado pela cona. E os miolos condizentes com os títulos...
Passada essa barreira, de – curiosamente – raiz cultural judaico-cristã, foi a leitura que Roth me proporciona. Absorvente, fluida, conversada. Saboreada.
Acabada a leitura, diria que fiquei “freguês da análise”… mas agora é tarde porque há muito a faço, sem ajudas e sem divãs.
E fiquei impressionado, surpreendido, com a precoce lucidez do autor. Se não soubesse, e não confirmasse na ficha técnica, que O Complexo de Portnoy é de 1969, o nível de maturidade da escrita, o grau de lucidez nas leituras da realidade, o traquejo de “oficina” na construção do romance, levar-me-iam a aceitar sem rebuço que Philip Roth escrevera agora, nos seus 70 e alguns anos o que só poderia ter sido escrito, assim, quando tinha metade da idade.
Que mais dizer? Por impulso compulsivo mais nada.
Por outras motivações, apenas transcrever um ou dois trechos, e fazer justiça à excelência da tradução.

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