sábado, fevereiro 17, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - 20

Nesta cavalgada que venho fazendo, um pouco solitário, e melhor diria burricada porque o cavalo, sendo de pau, mais burro parece (e digo-o baixinho para ele não me ouvir com suas orelhas de madeira), e em que vimos acompanhando as peripécias de Miguel Cervantes no que vai sendo recolha de material para o seu livro sobre a vida de D. Quixote, que sua e nossa é, é preciso não perder o ambiente que envolve - e contribui - para esse acervo de experiências que vai levar a tão importante marco da literatura. Mestre Aquilino está sempre atento. Atentos temos de estar nós, os leitores. Vejamos as páginas 144 a 146:
A derrota equivaleu à derrocada moral da arrogância espanhola, se neste plâncton meio mitológico, indeciso e fluído, se podem verificar tais sismos invisíveis.Fisicamente, o espanhol mal cambaleou das pernas, como Filipe. As metáforas que daí surgiram são mais de inventiva cortesã, salvo a carta circular que os secretários expediram em seu nome. Nela Filipe revelou-se tal qual aquele fidalgo minhoto, D. José de Enfartauntos, que se fez pintar num retábulo em louvor do Senhor dos Milagres porque, tendo caído duma escada, partiu uma perna quando podia ter partido duas:
(...)
Que os soldados levassem ou não ordem, pondo pé vitorioso em Inglaterra. de passar à naifa homens, mulheres e meninos maiores de 7 anos, e assinalar os menores com o ferro em brasa da escravidão, será calúnia britânica. Os descendentes dos conquistadores do Peru, se encarregariam de fazer obra limpa e asseada. Pelo que respeita a recatolizar Inglaterra e dar cumprimento à bula de Sisto V, renovando a excomunhão fulminada por seus predecessores contra Isabel I, o que ninguém nega, calculamos a que extremos iriam parar as demonstrações de justiça divina exercida pelo braço castelhano. Seguramente à prisão da raínha e entrega ao Papa. Deferida por esta à Santa Inquisição, tínhamos crematório certo do real corpo luterano na praça pública para regozijo dos anjos e não menos regozijo do poviléu, que dava o cavaquinho por estas festas. Havia, ainda, a considerar a elevação das boas almas, em justa contrapartida, aliás, do que a soberana protestante fizera à catolicíssima Maria Tudor.
Filipe nas Instruções não se cansara de incutir ânimo aos expedicionários e rogar-lhes que rezassem muito "por que las vitorias son don de Deus e el las da e quita como quiere".

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