sexta-feira, agosto 29, 2008

Fico-me por um desabafo, aqui

Às vezes, uma vontade (quase) irreprimível de dar um murro na mesa (ou em alguém), de gritar umas obscenidades bem vicentinas.
Aqui o faço, ou aqui faço o que me ajude a descomprimir.
O Som da Tinta, além dos encómios públicos, outros envergonhados ou calados, foi uma livraria, um espaço cultural que, entre as mais insuperáveis dificuldades, teve de sofrer a hostilidade (quando não agressão) por “beneficiar” de uma conotação partidária. Pela minha mais notada vontade e actividade, pelo apontar acusador da ligação partidária dos convidados a virem animar o espaço.
Pois ao Som da Tinta veio, por exemplo, um senhor (o Zé Pedro dos “xutos”) que, nas vésperas de ir cantar, com o seu grupo, à Festa do Avante!, acaba de dar uma entrevista em que decretou que «o Partido Comunista tem que se adaptar ao mundo de hoje (tem de deixar de) fechar todas as portas…». Veio (aqui, portas abertas, e vai à Festa…), e foi muito interessante e útil a sua presença, até pelo que disse aos jovens sobre a droga e os seus malefícios…
Aqui, a este espaço – que agora é apenas um blog mantido por este assumido membro do PCP que eu sou –, veio quem foi proposto que viesse, e alguns, mais de uma vez convidados, não vieram (talvez...) por não ter a livraria a conotação partidária que lhes seria conveniente, por ter a que, surdamente, se insinuava mas que não impedia que convidados fossem.
A este espaço vieram Carlos André, Galopim de Carvalho, Hugo Santos, José Fanha, Mia Couto, Pedro Barroso, Pepetela, Rui Pimental, Sérgio Godinho, Vasco Graça Moura, Viriato Soromenho Marques[1], e tantos outros com posições políticas publicamente conhecidas como não sendo do PCP, ou até com assumido posicionamente partidário não no (ou anti) PCP, e muitos outros de que não se conhecem (nem pretendiam conhecer) as posições político-partidárias.
Também vieram convidados, com conhecimento público de pertença ao PCP, como Ilda Figueiredo, José Casanova, José Saramago, Pedro Namora e outros? Ah!, com certeza, e não se esperaria que, neste espaço e sendo eu nele tão influente, se promovesse ou consentisse a nossa auto-discriminação. Bem basta a discriminação que outros, os de "portas abertas", nos fazem quotidianamente e em todas as oportunidades.
Não foi bem um murro na mesa nem uma obscenidade... fiquei-me por um desabafo.
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[1] - Todas as referências a nomes por ordem alfabética

4 comentários:

Maria disse...

Pois é... desabafaste.
Mas às vezes eu sinto uma coisa crescer por mim acima que acho que é... raiva. É isso, é raiva. Depois passa.
Li (de noite) o post do Cravo de Abril. Tem dias que não NOS percebo...

Justine disse...

A verdade é distorcida à medida dessa espécie de gente que tem ainda o poder nas mãos sujas.

Anônimo disse...

Maria, somos o que sublinha o fernando samuel, um colectivo de humanos que erram (embora alguns abusem e - nem depois...- reconheçam os erros que cometeram), e somos um colectivo que, como colectivo, tem sido capaz de corrigir os erros. E temos de ser capazes de discutir nos lugares e nos tempos que são os nossos.
Justine, o teu "ainda" como dimensão temporal é um sinal de esperança. E de luta. Até breve!

Ana Loura disse...

Ele há mesmo cada um, Sérgio, que se dá o direito de "cagar" sentenças acerca do que não conhecem porque se dão o direito a serem comodamente os tais que "adoro" Independentes de esquerda...Como diria um amigo meu: "Pró cesto da Gávea..." cresça e depois se tiverem estatura, apareçam. Desculpa o desabafo, podes apagar se entenderes demasiado o vernáculo vicentino. Gosto e estar aqui no teu cantinho