domingo, agosto 03, 2008

A Prelo Editora - 13

Hoje, tenho de meter este post!
Porquê? Entre outras razões (se razões são), porque já cá devia estar, ligado Biblioteca de Economia, de que o livrinho é um número extra, como I (em romano), porque se me atravessou no caminho quando procuro (desesperadamente...) um exemplar de O manda-chuva, outra edição que tem uma história para contar, porque...
A história de o (quase)diário de uma desvalorização,

desta edição de Novembro de 1967, pode começar a ser contada transcrevendo o início do "antelóquio" que o abre:

«No jornal da manhã de 19. Numa manhã de domingo jornal-lido-na-cama. A libra desvalorizou. Não foi nada que nos obrigasse a saltar para o frio. Mas era uma notícia importante! E durante quatro dias, entre 19 e 23 (hoje), lemos, recortámos, anotámos o que nos ia passando pelas mãos. Primeiro, por necessidade profissional; depois, transcendendo-a; agora, fazendo nascer (e acarinhando) a ideia de comunicar aos outros o resultado em mim de umas horas dedicadas a um assunto. A um assunto que todos toca, interessados ou não. Aos grandes especuladores de Bolsas a sério, aos pequenos especuladores de meses-turismo para aguentar penúria-de-todo-o-ano. (...)»

Um pormenor então não contado: antes de arrancar com o trabalho, telefonei para responsáveis da Seara Nova, de cuja redacção fazia parte, avisando que iria entregar um original sobre a desvalorização da libra, assunto muito importante, para sair no número de Dezembro. Resposta: impossível pois como eu sabia, para que o número estivesse no correio por forma a chegar a casa dos assinantes nos primeiros dias do mês todos os originais e paginação tinham de estar na tipografia até 20 do mês anterior! Definitivo... tivesse a libra desvalorizado mais cedo.
Fiquei "em pólvora". Atirei-me ao trabalho. Comprei um monte de jornais ingleses, franceses, espanhois, recortei, anotei ao lado, montei tudo numa sala de jantar transformada em atelier. Com a extraordinária ajuda de um amigo da Associação dos Estudantes de IST, responsável pela secção de folhas (o Carrilho), fizemos as montagens, fotografámos, levámos para a tipografia (a Novotipo, de um ex-companheiro de Caxias, das raras com off-set).
Ainda em Novembro, antes de sair a revista Seara Nova de Dezembro, a Prelo lançava o liv(inh)o (de 80 páginas) que deve ter sido o primeiro a ser publicado, em todo o mundo, sobre a desvalorização da libra.
Depois do "antelóquio", o sumário era:

  • o significado da desvalorização
  • antecedentes próximos
  • a decisão e os objectivos
  • respostas internas
  • reacções internacionais
  • a posição da Espanha
  • a posição de Portugal
  • os Estados-Unidos
  • "mercado comum"
  • a corrida ao ouro e o sistema (monetário-internacional)



2 comentários:

Maria disse...

Mais que provado que quando um homem (tu) quer(es), "a obra nasce"!
Não foi nesta desvalorização da libra que o Champallimaud ganhou uma "pipa de massa" com ferro que vinha, em trânsito para a Siderurgia, de Inglaterra?

As memórias dos meus 20 anos....

Anônimo disse...

Teria sido. teria sido...
Assim como os das gasolinas com o aproveitamento do "efeito stock", neste caso "feito desvalorização" comprando mais barato e vendendo como se mais caro tivessem comprado, ou vendendo mais caro como se o câmbio já tivesse mudado.

Já tinhas 20 anos?
Fazendo as contas, reparo que eu tinha 31...