sábado, julho 21, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - 42

Ora vamos lá à página 194, procurando não a esgotar...
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Cervantes, de resto, nem sempre esconde o juízo reservado que lhe merecem as mulheres. Deliberadamente é raro que o pronuncie, a não ser a meia voz: E como a mulher tem engenho pronto para tanto amassar ouro como rosalgar... Quando Leandra se deixa raptar pelo aventureiro, que a despoja de quanto leva sobre o corpo e vem dizer: enganou-me; era um ladrão refinado; mas não quis nada com a minha honra - não lhe importa muito que acreditem nela, protótipo como é destas criaturas que se deixam guiar mais pelo instinto de que pelo código moral ou religioso, naturezas portanto com a queda própria da vida que reclama franca alforria. E são elucidativas as seguintes palavras: ...pero los que conocían su discrécion y mucho entendimiento no atribuyeron a ignorancia su pecado, sino a su desenvoltura y a la natural inclinación de las mujeres, que por la mayor parte suele ser desatinada y mal compuesta. E nisto está a sua justificação. As leis da natureza não falseiam elas.
Maritornes é liberal do corpo com toda a gente e esta liberalidade tem o seu quê de cristão e caritativo que nos leva - e antes de mais ninguém o Criador - a perdoar-lhe o que tem de boçal e repulsivo. É estarola, mas boa. Não matou a sede a Sancho, melhor que a Samaritana, pois lhe deu vinho? O que apetece é homem. Nasceu um pouco para isso. A filha do estalajadeiro vai por igual vereda.
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E - repito-me - por ai fora... Mas há que parar, para todos descansarmos um pouco e isto não ser uma cópia mas uma escolha. Mesmo assim, quase ao fim da página 194 cheguei.

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