sábado, julho 21, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - 41

E agora? Agora, as mulheres. Na página 193, mas já vinda da página anterior, lá está matéria abundante sobre o tema.
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É um tipo curioso, se bem que bastante unilateral, este da mulher cervantesca. Todas primam por bonitas, melindrosas, extremas no sentir, menos felinas que frágeis, brandas no malefício e melodramáticas na constância. Em geral, oscilam ao vento e voltam ao seu aprumo como as corutas e últimas andadas de ramos de araucárias. É, mercê desta fraqueza inata, que Cervantes lhes atribui dons particulares de duplicidade, como um meio de defesa, condão natural, semelhante ao veneno na glande secretória da cobra.
(...) Pois a mulher interessada, mais particularmente a mulher espanhola, ou, como D. Quixote, visto na simbiose com Sancho, pressente graças porventura a uma clarividente subconsciência psíquica ou esperta intuição, a mesma Espanha, absoluta nos rasgos, oscilando entre todos os contrastes, bizarra e mesquinha, heróica e futre, original como não há segunda no mundo, mas perigosa, tão perigosa que são para pôr de quarentena tanto os seus afagos como as negaças.
As mulheres de Cervantes são pois cortadas segundo certo molde, sem que ele pretenda com isso dignificá-las ou diminuí-las. O retrato não deixa de ter os seus encantos, mas nunca fiar; quando menos se espera, vem a pincelada forte à Velásquez. Aquela Doroteia, sorte de Briseida, subitamente resvala na chochice. Torna-se mexriqueira, senhora comadre e bas-bleu. Mas, repetimos, psicologicamente a figura está tão certa em seus justos valores como qualquer das infantas no quadro das Meninas.
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E por aí fora. E tanto mais que toda a página se foi (apesar de um pequeno mas difícil salto de meia dúzia de linha), e já tanto está a espreitar na página seguinte que não resisto a por ela entrar... mas em outro "post".

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