quinta-feira, abril 05, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - 30

Isto está a ficar complicado! Quanto mais avança a viagem, mais difícil se torna. Não por cansaço mas porque a vontade de parar em cada página é quase irresistível. No entanto, é preciso continuar e passar páginas que mereceriam para aqui vir - a meu critério - se é que não todas o mereceriam. Meti-me nisto, e contente estou por o ter feito..., mas está a ser difícil! E mais o irá ficar! Por agora, dou um saltinho até à página 171:
D. Quixote de la Mancha descerra porém mais ludíbrios à vista que um prisma de cristal ao sol. Porque é que sendo cheio de puerilidades e partes gagas resiste ao tempo como qualquer séria e substanciosa obra, digamos estes livros de granito e bronze no género Velho Testamento ou da Odisseia? Demais da indemnidade ao tempo, bate a todos na concorrência do público, o mesmo é que no seu poder de engodo e sedução.
O Engenhoso Fidalgo está dentro de anos a perfazer quatro séculos. Em despeito de haver-se tornado, mormente para os espanhois, uma Sagrada Escritura, portanto uma dogmática com a sua mística, continua a ter leitores que o folheiam com honra e devotos espontâneos que tomam banho mental na linfa das suas páginas como os fiéis de Buda nas águas do Ganges purificador.
Um dos seus aspectos singulares é que se presta às mais variadas interpretações. Cada qual conclui do conteúdo a sabor das suas ideias e do seu credo. Para o realista, é a magna carta; para o democrata, um evangelho. Estão assim recheadas de caricaturas e de símbolos, no parecer de Fulano mais de Beltrano, estas páginas febris.
Como iremos comprovar, em alguns dos muitos exemplos que Meste Aquilino arrola, logo que voltemos a montar no cavalo de pau e prossigamos viagem...

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