A segunda sessão de Kusturika em Ourém, que se deseja que seja de noites de cinema no Museu Municipal, venceu de novo a concorrência do Benfica-Liverpool, e... não desmereceu a vontade da equipa promotora. Salinha bem composta!
Gato Preto, Gato Branco não é
Underground. Depois de Underground, de certo modo continuando Underground (na banda sonora). quase se pode dizer que pretende apagar Underground.

O mesmo humor, a mesma maestria no contar história(s) de forma diferente, aparentemente caótica, o mesmo (e melhor) manejo da câmara... mas a despolitização antitética da politização, que teria sido etiquetada de excessiva (pró-sérvia), de Undeground.
De Gato Preto, Gato Branco - que já vira antes, sem antes ter visto Underground -, talvez sobretudo me tenha ficado a vontade de voltar a ver Underground. Coisas minhas...
E lembrei, e trouxe comigo, a lembrança do que considero das coisas mais bonitas que tenho visto em cinema: o campo de girassóis a encher-se de risadas e de jogo de juventude e de amor.
Aliás, é sobre esses planos que me apeteceria dizer mais, e não sobre as escatológicas cenas de mergulho nos dejectos e de servirem os gansos de toalha ou lençol de banho de limpeza, que talvez tenham tido mais efeito que esses planos... Mas seria isso que desejava Kusturika, que queria fazer uma comédia, que queria fazer o que fizesse rir porque, para pensar em coisas muito sérias, chegara (e teria abusado, a juízo de alguns...) Underground.
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Gato Preto, Gato Branco é: algum desvario circense e uma caricatura etnográfica desenfreada (como já li, mais ou menos...) e, de certo modo, banda desenhada com banda sonora incorporada e irresistível.
Para acabar o apontamento, duas frases rascunhadas às escuras:
«a um casamento azarado pode fugir-se, mas não ao destino»
«cala-te quando falas comigo!»
Venha a terceira sessão (em que, infelizmente, não poderei estar...)