Não é largo o passo. Logo na página 104 e seguintes, Aquilino volta ao tema sempre presente, mas nem sempre explícito de Portugal e da Espanha (do láparo e da jibóia), tema que, nestes tempos de uniões europeias e de adesões coincidentes no tempo, tem actualidade maior:
Na conjunção de sessenta anos de Portugal com Espanha, o que mais admira não é o movimento libertador de 1640, que nós ampliámos até à epopeia e que em todas as cortes se chamou conjura e nem atingiu sequer o grau de motim. Com efeito, não se despendeu mais que um tiro, o que matou o secretário de Estado Miguel de Vasconcelos. O que admira é que a Espanha, durante sessenta anos de domínio, não houvesse digerido Portugal. Como se explica que o láparo resistisse ao estômago da jibóia? Reunia o povo português tais qualidades de auto-independência, havendo-de tornado um ser colectivo tão fortemente compleicionado, que a assimilação fosse impossível? Pelo contrário. Mercê, segundo é notório, das virtudes negativas que lhe vinham cultivando desde D. João III, perdera a virilidade e o carácter. A vis de uma nação é feita da sua consciente cidadania. Esta existe consoante o grau de liberdade e de bem-estar que usufrui. Ora em Portugal, com o andar dos tempos, deixara de haver cidadãos para só haver pedintes, escravos e áulicos. Nem uns, nem outros contam para a estruturação de uma pátria. No sentir de Oliveira Martins, a tragédia da sua aniquilação fora decorrendo em lágrimas e desesperos. Tudo isso é falso épos. A verdade é que o colóide perdera todas as condições de vibratilidade. Respondia com indiferença absoluta a males, misérias, extorsões e indignidades do Poder. O português contentava-se em rilhar, metido dentro da sua broa. Não houve sequer pânico. Foi perante um imenso nirvana que se encontraram os Filipes. Mal assomaram à fronteira com certo rompante, abriram-se-lhes as portas de par em par e caíram, tão fácil como em Jericó, os muros dos castelos.
Já volto...
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