Foi o caso de Mário Castrim ter proposto à Prelo - ou a Prelo pedido a Mário Castrim - um original. Num almoço na Charcutaria Francesa, com o autor, acertaram-se pormenores da edição. Em que colecção? Depois de troca de impressões, surgiu um nome, novo: Cacto! Depois, definição dicionária, mesmo adequada ao original: planta que nasce em terrenos áridos, arenosos ou pedregosos e cujas folhas são geralmente cobertas de espinhos.
Assim nasceu uma nova colecção. E o livro foi um êxito, depois retomado em outras edições em outras editoras (com o habitual esquecimento da primeira, da Prelo).
Mas não se ficou a colecção por um livro. Pelo menos, mais um de Pedro Alvim, O caçador do nada, e outro, Mandamentos e Mitos, de Manoel-Lourenço Forte (pseudónimo). Este, um conjunto de textos socio-linguísticos desmitificadores e desmistificadores, que abre assim «Não sei se há. Mas se houver, o Decálogo do Burguês começa por certo pelo seguinte Mandamento: "Ama a Ordem sobre todas as coisas o o dinheiro como a ti mesmo".»
O livro de Pedro Alvim é uma amostra de como "devem ser" crónicas para um jornal, em que, como ele, mestre, dizia, não pode haver uma palavra a mais nem uma palavra a menos.
Veja-se:
OURO NO DENTE
Aqui está o criado: prato na mão, guardanapo no braço: Alheira, batata, um ovo estrelado. E para beber? Vinho da casa. Vai-se o criado e ficam os dentes. Entre os dentes - um dente de ouro.
Sobremesa: pudim flan.
- Café?
-Café. Café e bagaço.
Vai-se o criado, lembra-se o cliente:
- Palitos, 'favor!
Ei-los na toalha: haste fina de madeira delicia-se no dente aurifulgente. Mas que gajo tão contente!
Um comentário:
Mais uma excelente capa!
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