sábado, agosto 16, 2008

A Prelo Editora - edições para-Prelo (2)

Outra edição para-Prelo foi a publicação, em 1971, de textos “íntegros”, assim chamados por serem textos que a censura (ou o crismado, por Marcelo Caetano, aviso prévio) cortara, ou na totalidade, ou em parte substancial, ou apenas uma frase, e que se publicavam na íntegra, “tal como foram escritos”. Para tornar as coisas (talvez) mais graves para o “editor”, este fez anteceder os “3 textos íntegros” de uma “Razão de ser”, que justificava a edição na procura de “intervir num momento particular da vida política portuguesa”, quando – como afirmara o Presidente do Conselho – “Portugal atravessava um crítico período da sua história” e se mantinha aberta a Assembleia Nacional para discutir alterações à Constituição, a liberdade religiosa e a lei da imprensa. Não hesito em dizer que esse prefácio era um desafio.
E, depois dos três exemplos que se pretendia que servissem para mostrar o que se cortava e porquê se cortava – mesmo quando o porquê era pura arbitrariedade –, como se isso não bastasse o que se chamou folheto terminava com um artigo de Jacques Brière, com o título Informar, informar-se: como?, que fora publicado nos cadernos PEEP, sem censura prévia mas apreensão a posteriori!, que informava e comentava as posições do Partido Comunista Francês sobre informação e em que se sublinhava, com ênfase, a importância do informar-se.
Para que não fique apenas a lembrança e a ilustração, junta-se o corte do último parágrafo no artigo sobre desporto – Em que medida é que o espectáculo desportivo é socialmente aceitável – deixando em itálico (e com a cor do lápis azul) a parte cortada:

«(...) Brecht teria dito que “tinha esperanças no espectador desportivo”. Acredito que tivesse dito isso (mais ou menos). Se não o disse (nem Brecht, nem alguém igualmente a usar como autoridade), digo-o eu. Tenho esperanças no espectador desportivo. Porque conhece as regras do jogo, está informado, participa no espectáculo, discute o que o rodeia. É verdade que o jogo de que conhece as regras é alienante (porque não o entende como espectáculo), é verdade que a informação é perturbadora (porque é, também, alimento de mitos e mágicas), é verdade que a participação é acrítica (porque a pseudo-crítica não nasce na razão), é verdade que se discute o que esconde o que devia ser discutido (porque é um espectáculo e não uma luta, porque são as folhas secas e não as raízes).
Mas: o espectador desportivo conhece as regras, está informado, participa, discute. Prova que não dorme. É certo que está bem mais sonâmbulo que acordado. Mas, bolas!, está vivo. E é povo

Um comentário:

Anônimo disse...

Não querias mais nada? Povo acordado. Isso é veneno ainda hoje.
Vocês estavam mesmo a pedi-las, olá se estavam.

Campaniça