Das notas que acompanharam e seguiram a leitura de Exit - o fantasma sai de cena, muitas ficam pelo caminho. Outras ao caminho voltarão. Ou não.
Acabo de saltar uma série delas, mas não passo das nascidas na página 250. Até porque retomam a discussão entre Zuckerman e Kliman cento e cinquenta páginas passadas, e em que, pelo meio, algumas outras "conversas" (entre os dois, e as ficcionadas dentro da ficção entre ELA e ELE) foram sendo deixadas para outra altura.
Na página 250, Roth, ou Zuckerman por ele, "confessa"
«(...) eu sentia-me - contra minha vontade - cada vez mais pequeno à medida que crescia em exuberância a demonstração de presunção de Kliman. Mailer já não anda à procura de briga e mal consegue andar. Amy já não é bela nem está na posse da totalidade do seu cérebro. Eu já não tenho a totalidade das minhas funções mentais, nem a minha virilidade, nem a minha continência. Georges Plimpton já não está vivo. E.I.Lonoff já não tem o seu grande segredo, se é que esse segredo alguma vez existiu. Todos somos agora "já-nãos" enquanto a mente exaltada de Richard Kliman acredita que o seu coração, os seus joelhos, o seu cérebro, a sua próstata, o esfincter da sua bexiga, o seu tudo é indestrutível e que ele, e só ele, não está nas mãos das suas células. Acreditar nisso não é grande façanha para quem tem vinte e oito anos, para mais se sabem que que são tocados pela grandeza. Não são "já-nãos" em perda de faculdades, em perda de domínio, vergonhosamente desapossados de si mesmos, marcados pela privação e subjugados pela rebelião orgânica que o corpo desencadeia contra os velhos; são os "ainda-nãos" que não fazem ideia da rapidez com que as coisas mudam de rumo."
Os «já-nãos» e os «ainda-nãos»! Lucidez ou desespero assumido com crueza, com brutalidade?
Razão terá quem, sem deixar comentário no "post" anterior, me disse do seu desacordo quanto a serem as linhas divisórias entre a ficção e a realidade os caboucos, as traves mestras, os tijolos do romance, ripostando que o livro é sobre a velhice e é o livro de um velho. Talvez... mas o romance, também pelo menos, e à volta da velhice e da lucidez - se lucidez é - de um homem de 71 anos, é um extraordinário exercício de contrabando entre os aléns e os aquéns da fronteira do que é o autor a contar-se e a ficção que o escritor constrói. Sem nunca desligar o romance da realidade que envolve o que escreve e o que lê.
Sobretudo para um leitor próximo, na idade e não só, de quem escreveu, não há dois mundos, o da realidade e o da ficção que é o romance, mas apenas um só com fronteiras que cada qual - o que escreveu e o que lê - coloca onde mais reconhece a realidade que vive e melhor saboreia o romance que é obra criada por um grande escritor.
Um comentário:
Sim, agora está claro o que querias dizer, e até concordo:))
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