O arrependimento, já o dissemos, não faz parte do emocional espanhol. Madalenas ali não se sabe o que sejam. Um castelhano nunca lamenta ter sido vingativo, fero na desafronta, desmedido na chacina, mau na maldade, excessivo no bem. Lamentará apenas que o não tenha sido em grau superno, o mesmo é que esquilianamente. Arrepende-se, sim, se procedeu com torpeza, quer dizer, sem arte no que a palavra encerra de recalcamento das forças activas ou estáticas do carácter. Esta frase do D. Quixote equivale a uma definição: los más quedaron tristes y melancólicos de ver que no se habían hecho pedazos los tan esperados combatientes, bien así como los muchachos quedan tristes cuando no sale el ahorcado que esperan, porque le ha perdonado o la parte o la justicia.
Cervantes, em despeito do ressumbramento mefítico que é lícito supor lhe contagiasse os sectores afins da piedade, vibra de simpatia por todos os infelizes e irregulares da terra. Posto seja condão dos príncipes do entendimento, com ele é qualidade prima, como se esta singularidade fosse uma espécie de antibiótico contra a relice e apatia ovelhum do género humano.
Como muitas vezes nos tem acontecido, apesar da publicação do ensaio ser de 1960, as considerações de Mestre Aquilino sobre o carácter espanhol (ou castelhano), se muito importantes até para a identificação do português na Ibéria, parecem-nos muito perto, ou muito marcadas, pelo que foi a guerra civil em Espanha.
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