quarta-feira, junho 20, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - 37

Intenções tinha, e boas, de fazer o que me prometi no episódio de cópia anterior. Chegar ao fim da página 181 e virá-la para a página 182. Mas o caso é que tropecei nas primeiras linhas da tal página 181 e não resisti, até porque, nessa página, Mestre Aquilino nos ajuda a ler as duas partes do D. Quixote. E pode resistir-se a isto?:
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Na Primeira Parte, Cervantes abstrai do tempo. Dizer que toda ela é um anacronismo de fio a pavio, não é descoberta nenhuma. Somadas diuturnidades da acção, hora por hora, marcha através dos campos de Montiel, estadia na pousada, permanência na Serra Morena, regresso à estalagem do Canhoto, teremos uma semana, e não mais. Todavia tem-se a impressão duma extensa jornada pelos tempos e o espaço. Quem saberá dizer há que séculos o cavaleiro do elmo de papelão saiu a favor dos escuro da alba pela porta travessa da abegoaria? Sancho perdeu a tramontana.(...)
Na Segunda Parte, Cervantes soube eximir-se de todo ao cômputo. O rio não leva margens. Sem pastorais nem flabiaux, reconcentrada a acção, articulados os episódios como num tronco franças e ramos, a pena do escritor lavra direita e segura. O talento de Cervantes, em despeito das inibições e constrangimentos, à medida que se vai expandindo sobe em altitude. Senhor do filão precioso, explora-o firmemente, sem titubear.
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Breve farei o salto de página que me prometi. Mas não resisti à transcrição deste naco, também porque não fui capaz de cavalgar por cima desta questão do sonho e da ausência de cronologia para o reger, como diria o Mestre.

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