quinta-feira, julho 29, 2010

O complexo de Portnoy - 2

Duas transcrições de O complexo de Portnoy.
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Numa primeira, em dois trechos interligados, Philip Roth ilustra como, na infância e adolescência de Alex (e na sua!), a condição de judeu o(s) marcou indelevelmente. Todo o livro, até em designações não traduzidas, é marcado pela situação dos judeus nos Estados Unidos e no mundo e, depois, em Israel.
A conversão religiosa por que ele pergunta àquela que estava a pensar que amava, e tanto que exultavam com a falha de um período menstrual deste partindo para projectos futuros, é sobre a conversão ao judaísmo, e as consequências da resposta são devastadoras para a relação, ao mesmo tempo que, em meia dúzia de linhas - em desabafo ao psicanalista - PR tanto diz sobre nós todos, judeus ou não, na perplexidade que acompanha a ruptura de uma relação:

1. - «(…) Eu disse-lhe: “E tu convertes-te, não é?”
Fiz a pergunta em tom irónico, ou pelo menos era essa minha intenção. Mas a Kay levou-a a sério. Não foi ao ponto de me dar uma resposta solene, mas respondeu a sério.
Kay Campbell, de Davenport, Iowa: "Porque é que eu havia de fazer semelhante coisa?"
(…)
Ainda assim, pelos vistos, eu nunca mais lhe perdoei: nas semanas que se seguiram ao falso alarme, comecei a achá-la enfadonhamente previsível nas conversas, e pouco mais ou menos tão desejável como um monte de banha na cama. E surpreendeu-me que ela reagisse tão mal quando finalmente tive de lhe dizer que já não gostava dela. Fui muito honesto, está a ver, como aconselha Bertrand Russell. “Não quero andar mais contigo, Kay. Não posso esconder aquilo que sinto, tenho muita pena.” Ela chorou desalmadamente: andou pela faculdade exibindo umas olheiras horríveis por baixo dos olhos azuis congestionados, deixou de aparecer à hora das refeições, faltou às aulas… E eu fiquei estarrecido. Porque sempre pensara que era eu que a amava, e não ela que me amava a mim. Que surpresa descobrir que fora exactamente o contrário.»

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A segunda transcrição tem outro motivo ou intenção. Não resisto a ela, embora me tenha contido na sua extensão:

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2.- «Eu fazia parte da subcomissão parlamentar encarregada de investigar o escândalo dos concursos televisivos. A missão perfeita para um criptossocialista como eu: logro publicitário à escala nacional, exploração do público inocente, empresas implicadas em operações fraudulentas – em suma, a boa e velha ganância capitalista.»

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